Uma agenda para Portugal
Em 2014, o 25 de Abril celebra 40 anos. Esta comemoração bem merece um sobressalto cívico.
Esteve na política com arrojo e coragem. Esteve muitas vezes sozinho e com razão antes do tempo. Francisco Sá Carneiro representa hoje um património que ultrapassa o universo do PSD e evidencia a situação clara que é necessário e urgente fazer política com gosto e determinação. Foi ele que disse um dia desejar um Portugal onde os idosos tenham presente e os jovens tenham futuro.
Portugal atravessa uma das maiores crises de identidade da sua história. Uma crise que se consubstancia, na sua essência, em problemas de ordem financeira e da sua economia. Mas é também uma crise que necessita e implica uma discussão aberta na sociedade portuguesa. Temos de discutir, de um modo claro, algumas das traves mestras do sistema político português.
Não para o questionarmos de um modo demagógico e populista, mas antes para o analisarmos com sentido de responsabilidade e de Estado. Também aqui encontramos um paralelismo com Francisco Sá Carneiro. No final dos anos 70 ousou escrever uma Constituição para os anos 80, depois de concluir que vivíamos um impasse na sociedade portuguesa. Os tempos de crise e de dificuldades são, quase sempre, tempos de oportunidades.
Este é, pois, um momento de acrescentar algo de novo para a vida política através do contributo de homens e mulheres livres de qualquer compromisso. Mais uma vez ganha sentido o conceito de sociedade civil que Sá Carneiro contrapôs e afirmou no Verão Quente de 1975.
Portugal precisa de uma firme vontade reformista para enfrentar os tempos do pós-troika. Portugal precisa de pensamento próprio e não de viver em outsourcing de pensamento estratégico fornecido por consultores e escritórios de advogados que ditam, em cada momento, o que é politicamente correto e economicamente determinante.
Portugal precisa de uma Constituição onde as funções sociais, as funções empresariais e as funções de soberania do Estado sejam interpretadas pelos cidadãos numa lógica de interesse público.
Portugal precisa de uma administração pública estável e coerente que permaneça para lá dos governos e que compreenda o funcionamento do Estado.
Portugal precisa de uma lei eleitoral que aproxime eleitos e eleitores.
Portugal precisa de partidos políticos com outro modelo de funcionamento.
Portugal precisa de debater a ideia de Europa e o seu sentido neste século sem esquecer a universalidade da sua história e da sua língua.
Por tudo isto a Plataforma Uma Agenda para Portugal vai lançar um grande debate ao longo do ano de 2014, em todo o país, envolvendo pessoas dos partidos do arco da governação, independentes, académicos, membros da sociedade civil, em resumo, gente que quer saber o que pode fazer por Portugal com o mesmo sentido da pergunta de John Kennedy nos anos 60. Em 2015 estas propostas serão apresentadas publicamente como um compromisso para ajudar a governação do país.
Em 2014, o 25 de Abril celebra 40 anos. Esta comemoração bem merece um sobressalto cívico.