Já marcou uma consulta ao seu filho na Doutora Brinquedos?
Chris Nee, criadora e produtora da série Doutora Brinquedos, inspirou-se nos medos do próprio filho e inventou uma personagem que ajuda os mais pequenos a vencerem o pânico de ir ao médico. Em Portugal, a série está no ar há um ano no Disney Junior e é um sucesso. A segunda temporada chega em Janeiro.
“O meu filho tem asma, por isso passa imenso tempo no médico. Houve mesmo uma noite em que tivemos de ir às urgências e, depois disso, tentei encontrar uma maneira para que fosse mais agradável para ele ir ao médico”, conta ao PÚBLICO, por telefone, a argumentista premiada com um Humanitas Prize e um Emmy.
A série nasceu assim para ajudar as crianças a sentirem menos ansiedade diante dos médicos. Quando a Doutora Brinquedos põe o estetoscópio, algo mágico acontece: os brinquedos ganham vida e a protagonista fala com eles, faz-lhes diagnósticos, põe-lhes pensos rápidos, cuida-lhes das feridas. A série também pretende promover um estilo de vida saudável e hábitos de higiene. “Quisemos explorar temas de Medicina e os medos das crianças, mas também promover hábitos de vida saudáveis, como fazer exercício e comer de forma saudável. Estas mensagens são sempre uma parte da série”, explica.
Chris Nee conta que o filho, Theo, começou, como muitas outras crianças, a frequentar assiduamente o pediatra quando ainda era bastante pequeno. Primeiro, eram as constipações, depois apanhou uma pneumonia, até que, aos dois anos, lhe diagnosticaram asma. Uma noite, a mãe encontrou-o sentado na cama sem conseguir respirar. A criança foi de ambulância para o hospital e passou lá a noite. Foi um susto para a criança e para as mães – Chris Nee vive com a companheira, Lisa. “Como mãe de uma criança doente, tudo o que queremos no mundo é fazer com que ela se sinta melhor, mais segura, mais confortável, com menos medo. E fazemos tudo para que isso aconteça. Tudo, completamente. Eu fiz uma série de televisão”, escreve a produtora num texto chamado A série de televisão que fiz para o meu filho.
Sucesso junto das meninas
Tal como o canal Disney Junior, a Doutora Brinquedos celebra este mês um ano de transmissão em Portugal. Dirigida sobretudo a crianças entre os dois e os sete anos, a série é um sucesso, sendo mesmo, na grelha do canal em Portugal, o segundo programa preferido das meninas até aos cinco anos. No ar todos os dias às 20h30 e aos fins-de-semana às 11h, tem já o início da segunda temporada, na qual se abordam novos temas de Medicina, marcado para Janeiro.
De 2 a 7 de Dezembro, o Disney Junior preparou mesmo uma programação especial, com a estreia das peças Histórias da Doutora Brinquedos e com uma maratona de episódios, que terão, em cada dia, como protagonista um dos brinquedos – Lãzinha, Hélia, Tremeliques, Valentim e Ronda.
“Felizmente, o meu filho adora a série. Ele diz que é a série dele e não a minha. Tem muito, muito orgulho nela, o que é muito recompensador para mim. Nós sabemos que a série está a ajudar as crianças, a tornar a ida ao médico mais fácil. E sabemos que a personagem tem sido um exemplo para eles”, diz Chris Nee, que começou na Rua Sésamo e, entre outros projectos, já trabalhou também em documentários.
Quando teve a ideia, soube logo que era “algo em grande”: “Não podia acreditar que ninguém tinha feito isto antes. Esta série promove valores como cuidarmos uns dos outros. É óptimo quando a televisão passa grandes mensagens para casa. A televisão pode ser um meio de diversão, mas também uma forma de aprendermos algo”, diz, acrescentando que pretende que os pais, os principais responsáveis pela “maior parte da educação”, também gostem de ver os episódios com os filhos.
Theo tem hoje sete anos e vive em Los Angeles, Califórnia, com as mães. O miúdo e a personagem cresceram juntos. Graças a ela, Theo já não tem medo de ir ao médico. Uma vez, quando ainda tinha apenas cinco anos, o pediatra disse que lhe ia medir a pressão arterial. Apesar de inicialmente ter ficado apreensivo, Theo lembrou-se que já tinha visto a Doutora Brinquedos fazer o mesmo a um dos bonecos. Isso deu-lhe confiança e, de sorriso na cara, comunicou ao médico que estava pronto. “Foi um momento comovente para mim”, conta a mãe. Nem que fosse só por este momento, fazer a série já tinha valido a pena. Chris Nee fez uma série para o filho – e para todas as crianças.