País improvável. Governo incapaz
Como sobrevivemos? Com impulso criativo. Como vencemos quando vencemos. Com orgulho nacional, autonomia, confiança e aposta na qualificação.
Portugal é um pouco de tudo isto e muito mais. É um país diferente que nunca seguiu o padrão dominante. Por isso venceu e por isso só está agora a perder porque os portugueses, em vez de orgulhosos, estão tolhidos de medo de serem quem são, por uma governação pobre e empobrecedora.
Um país que aprendeu na história a ser flexível, a mudar a rota, a guinar na direção para chegar como sempre chegou ao ponto donde podia voltar a partir.
Não cabe aqui um retrato histórico, geográfico, sociológico ou mesmo político de Portugal. Cabe antes compreender porque somos gente que muda mais facilmente de continente do que de rua na mesma cidade.
Quando tivemos que enfrentar inimigos poderosos, nunca o fizemos em campo aberto. Soubemos escolher e preparar o terreno de batalha fosse ele onde fosse.
Um povo assim pode ambicionar tudo. Tudo é possível menos o evidente, o mecânico ou comandado de fora, o protetorado que apaixona e protege este Governo.
Não! Nunca foi com manuais de finanças que nos salvámos e não será com manuais de finanças ou reprimendas europeias que nos salvaremos agora.
Nós pagamos sempre. Por todo o mundo o português é pessoa honesta e de boas contas. Mas pagar é para nós o fim do trajeto e não o seu início. Somos navegadores. Não somos cambistas.
Porquê copiar as soluções óbvias e que todos já usaram, se podemos descobrir outras diferentes mil léguas para além do que se conhece, ousando, arriscando, falhando e vencendo? No óbvio, obviamente que já não existiríamos.
Fernando Pessoa disse que Portugal é a Língua Portuguesa. Esta intuição fecunda tem um duplo sentido. O sentido da não territorialidade como fator único de identidade e o princípio da matriz de leitura do mundo como diferenciadora da nossa forma de ser e de estar.
Portugal é o país dos portugueses. Sem conhecer os portugueses não é por isso possível conhecer Portugal. O nosso instinto de sobrevivência tornou-nos cidadãos do mundo. A aventura moldou-nos o caráter. Somos inventivos e criativos num contexto de sobrevivência.
Daí que não nos “inscrevamos”, exceto quando já não há alternativa. Que tenhamos “medo de existir”, exceto quando a existência ela própria está em causa. E que sejamos subjugados por asfixia da vergonha e da desculpa, quando não nos deixam ser quem somos.
Poderá um país assim ser um país de replicadores? Jamais. A nenhum preço um português será competitivo numa linha de montagem. Nós resolvemos ou “saímos do filme”, mas não somos um povo para fazer de cenário ou de copiador em série.
Como sobrevivemos? Com impulso criativo. Como vencemos quando vencemos. Com orgulho nacional, autonomia, confiança e aposta na qualificação.
Um país improvável resiste a tudo. Até ao Governo mais incompetente da democracia. Aprendemos a só ferver em alta temperatura, mas não convinha termos de lá chegar. E há quem possa evitar que isso aconteça. Quem tenha mesmo essa obrigação institucional.
Deputado. Coordenador do Laboratório de Ideias e Propostas para Portugal