Nem adaptação satisfatória do livro, nem filme que se consiga recomendar por si só, a versão cinematográfica do romance de Salman Rushdie é um mostruário particularmente exemplar de como não se deve adaptar um livro ao grande ecrã. Confirmando as piores tendências decorativas que já se adivinhavam em filmes como "Água" (2005), a indiana radicada no Canadá Deepa Mehta limita-se a alinhar episódios melodramáticos sumptuosamente apresentados paredes meias com o exotismo gratuito bollywoodiano (no que não é nada ajudada pela banda-sonora de Nitin Sawhney), mais preocupada com a câmara irrequieta e o postal ilustrado da fotografia do que com garantir que os actores estão todos no mesmo filme. Mais problemático é que a adaptação, a cargo do próprio Rushdie (que dá igualmente voz ao narrador), nunca consegue encontrar um tom fiel ao realismo mágico do romance nem construir realmente personagens, reduzidas a arquétipos de saga familiar introduzidos e descartados ao sabor das necessidades da história. É uma decepção tanto maior quanto o livro transportava em si as sementes de um grande filme.
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