A Minha Vida Dava um Filme

Shari Springer Berman e Robert Fulcini foram a dupla responsável por "American Splendor", baseado na BD de Harvey Pekar, e um dos filmes que consagraram Paul Giamatti como actor talhado para personagens misantrópicas. Isto foi há praticamente dez anos; agora, reencontramos Berman e Fulcini ainda na órbita do “cinema independente”, mas com muito menos gás, e com muito menos graça. Com muito menos originalidade, sobretudo, porque A Minha Vida Dava um Filme parece um pot pourri, uma mistura de coisas que foram vistas aqui e ali por várias vezes, e que combinadas dão algo parecido com a própria “receita” do cinema independente americano: personagens psicologicamente desreguladas, famílias disfuncionais, ambientes suburbanos, tudo no limite da caricatura. No caso, pretende-se o opor o “alto” e o “baixo”: a história de uma socialite da alta de Manhattan (a encantadora Kristen Wiig) que simula uma tentativa de suicídio para chantagear o ex-namorado mas em vez de acabar nos braços é posta sob custódia da mãe, uma ex-stripper (Annette Benning, em modo “cabeleireira”) que vive algures em New Jersey com um namorado (Matt Dillon, em modo alarve) que se chama George Bush e se faz passar por ex-agente da CIA ou coisa parecida. Como é de rigueur nestes tempos em que as famílias disfuncionais são mato, o sentido do filme é o da recomposição do que à partida já está decomposto. A Minha Vida Dava um Filme não é de deitar fora, mas exige alguma complacência para com o registo indiferente, muito sitcom, da narração de Berman e Fulcini, e para com o traço grosso com que a maior parte das personagens e situações são desenhadas. A graça disto tudo é moderada, e vive bastante do confronto entre mãe e filha, com Wiig e Benning suficientemente enérgicas para se elevarem acima da relativa maçada que as rodeia, e com isso elevarem o filme um bocadinho acima da maçada que, no fundo, é.

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