Depois de divulgar provas de ataques químicos na Síria, Obama ainda não decidiu atacar

Presidente diz que considera "acção muito limitada". Kerry tinha afirmado que ataque químico do regime de Assad matou 1429 pessoas, incluindo pelo menos 426 crianças.

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"ão fazer nada “quando são mortas mais de mil pessoas, isso é um perigo para a nossa segurança nacional", disse Obama Kevin Lamarque/Reuters

Numa declaração feita à margem de um encontro com líderes de países Bálticos, para a qual não foram permitidas câmaras de televisão, Obama classificou o ataque com armas químicas da semana passada nos arredores de Damasco como "um desafio para o mundo" e garantiu que não estava a considerar "uma acção sem fim claro" nem "uma abordagem com tropas no terreno".

Obama reconheceu as dificuldades de fazer passar a necessidade de um ataque ao público americano, especialmente depois das guerras do Afeganistão e Iraque. Mas apontou que não fazer nada “quando são mortas mais de mil pessoas , incluindo centenas de crianças, com uma arma que 98 ou 99% da humanidade diz que não devia ser usadas mesmo em guerra, e não há acção, estamos a mandar um sinal… e esse é um perigo para a nossa segurança nacional”, cita o diário Politico.

"Muitas pessoas pensam que se deve fazer algo, mas não querem ser elas a fazê-lo", acrescentou Obama.

Turquia quer derrubar Assad
O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, veio entretanto em sinal contrário dizer que uma operação limitada não satisfará a Turquia.

Para Ancara, o objectivo devia ser acabar com o regime do Presidente Bashar al-Assad. "Não pode ser uma acção relâmpago de 24 horas", afirmou.  O tipo de acção adequado seria uma campanha tipo Kosovo, 1999, em que uma campanha de ataques aéreos da NATO durou 78 dias e forçou a retirada de tropas sérvias.

Quanto aos EUA, John Kerry tinha feito, pouco antes, um discurso em que enumerou tudo o que a Administração Obama pode revelar sobre o ataque com armas químicas nos arredores de Damasco e defendeu uma acção americana contra o regime de Bashar al-Assad. “Agora que sabemos o que sabemos, o que fazemos?”, perguntou o secretário de Estado dos EUA. Esforçou-se por exemplificar que o ataque em preparação não tem paralelo com a invasão do Iraque, em 2003, nem no tipo de provas, nem no tipo de acção militar.

O que sabem os EUA que podem partilhar com os seus cidadãos e com o resto do mundo? Sabem que morreram 1429 pessoas no ataque com armas químicas no subúrbio de Damasco, incluindo pelo menos 426 crianças. Sabem “de onde e a que horas foram lançados os rockets, e onde e a que horas aterraram” com as suas cargas de agentes químicos mortais. Todos vieram de locais controlados pelo Governo, onde três dias antes tinha havido movimentações de responsáveis militares encarregados de armas químicas, e todos aterraram em zonas disputadas ou controladas pela oposição. Sabem que os mortos não tinham feridas nem cortes. “Não havia um pingo de sangue a manchar os lençóis brancos”, disse Kerry.

Sabem que o regime bombardeou a zona com quatro vezes mais intensidade do que anteriormente antes de permitir a ida dos inspectores da ONU ao local – e mesmo assim restringiu o seu acesso.

Riscos de não agir
Dirigindo-se a quem tem apontado os riscos de uma acção militar contra a Síria, Kerry contrapôs com os riscos de não fazer nada. “O Irão vai sentir-se poderoso, o Hezbollah, a Coreia do Norte”, enumerou. “Do que é que eles se vão lembrar? Que um regime foi impedido de usar armas químicas? Ou que o mundo se pôs de parte e não fez nada?”

Trata-se, continuou, de defender “os valores universais da América”, e “a [sua] credibilidade no mundo”.

Finalmente, Kerry referiu que a missão dos inspectores - que as Nações Unidas anunciaram esta tarde ter terminado de recolher amostras - não pretende determinar quem usou armas. E apontou o bloqueio da Rússia no Conselho de Segurança. Lembrou “o mais antigo aliado [dos EUA]”, a França, que concorda com uma acção militar.  

Esta será “limitada e à medida” para assegurar que Assad presta contas por usar estas armas e que não voltará a fazê-lo. “O objectivo continua a ser obter uma solução política através de negociações – porque sabemos que não há solução militar”, sublinhou.

“E é isto que está no centro da nossa decisão: que as armas mais perigosas não voltem a ser usadas contra os mais vulneráveis.”
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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