Eu achava que não se vendiam tradições, nem vivências, nem memórias. Enganei-me. Portugal é romantizado no número 142 da Columbia Road, na zona Este de Londres. Refiro-me à loja Portuguese Love Affair.
As portas ainda não estavam completamente abertas e entram os primeiros clientes. Batem palmas e felicitam as donas quando percebem que se trata da inauguração do espaço. Os meus olhos começam a percorrer as prateleiras e de repente já não estou em Londres — ali dentro é mais ou menos Portugal.
Impressionam-me as etiquetas cuidadosamente alinhadas a cada artigo. Aproximo-me e reparo que o preço aparece em último e em caracteres mais pequenos — o corpo do texto é sobre cheiros, sabores e memórias. São os sabonetes envolvidos em papel colorido, da Barbearia de Bairro, que me transportam até ao Príncipe Real. Leio e quase que consigo cheirar as compotas empilhadas noutro armário. “Will you marry me” está escrito numa caixa azul — são frutas desidratadas, cortadas em forma de coração.
De repente a loja está cheia de curiosos, a mesa com chouriços começa a fazer sucesso, até os cumprimentos me parecem portugueses. O gargalhar é-me familiar, o agitar de copos meio cheios, as garrafas quase vazias.
A loja deixou de ser loja, os produtos tornam-se um pretexto. Tornou-se cada vez mais nítida a origem do projecto. É a saudade que assume o centro das atenções dentro daquelas paredes. Para mim foi também orgulho.
Quando saí e olhei uma última vez para as letras grandes e estilizadas, A Portuguese Love Affair, tive a certeza que o problema não é Portugal. Quem sai quer levá-lo consigo. É um caso de amor, em Londres.