Uma Mercearia Portuguesa em Macau. A vontade de “criar um projecto independente dos filmes, dos teatros, dos contratos” motivou o casal a viajar para o outro lado do mundo. “Arrisco dizer que a Mercearia foi um pretexto para trocar de hemisférios e mudar de ares”, afirma Margarida Vila-Nova.
Macau, pela portugalidade e a ligação sentimental de Ivo Ferreira ao território — porque lá viveu e realizou o seu primeiro filme —, foi uma escolha quase intuitiva. “Macau procura vitalmente uma forma de se afirmar culturalmente, de acertar a sua identidade. A herança portuguesa, depois de quase todos os estereótipos do tuga abandonarem o território, continua a viver e a ter o seu lugar”, realça Ivo.
Quem visita a “Mercearia Portuguesa”, situada no Bairro de São Lázaro, de “arquitectura colonial, bonito, rodeado de edifícios elegantes”, recorda ou conhece o melhor que a produção nacional tem para oferecer a nível de produtos alimentares (caso dos chocolates Regina ou dos rebuçados Dr. Bayard) e de artesanato.
O casal salienta que é máxima da casa o conhecimento detalhado de cada produto e respectivos produtores/criadores para dar ao cliente um tratamento personalizado e familiar. “Queríamos estudar as obras e os produtos que iríamos vender na loja, conhecer a história e os artistas por trás de cada peça. O mesmo se passou com os produtos alimentares”, contam ao P3.
Os clientes são turistas
A estadia por Macau dá boas razões a Margarida e Ivo para permanecer. “Eu, a minha mulher e os meus filhos somos muito bem vindos nas ruas e nos mercados”, sublinha o cineasta. Prova do sucesso por terras asiáticas é a afluência de clientes dos países contíguos à ex-colónia portuguesa. “A maioria dos nossos clientes são turistas: chineses, japoneses, taiwaneses. E os nossos vizinhos de Hong Kong visitam-nos sempre ao fim de semana”, revela Margarida.
Contudo, tal não impede que ambos prossigam as suas carreiras. Ivo Ferreira prepara um filme para Guimarães 2012 , no qual Margarida participa, e "Cartas de Guerra", adaptado das cartas que António Lobo Antunes escreveu “à sua amada durante a sua comissão em África”. A actriz refere ter “alguns projectos já apalavrados para o futuro”. “Espero andar entre cá e lá”, acrescenta.
O regresso a Portugal é por isso incerto. “Se calhar nunca volto, vou estando”, afirma Ivo. “Filmo aqui – e só aqui – como se estivesse a filmar em Lisboa: as ruas têm histórias minhas, eu reconheço-as e já tivemos num ou outro dia um diálogo”.