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A periferia a dar música ao centro da cidade
É uma realidade que, em grande medida, continua por revelar. No quarto lá de casa, jovens dos bairros que circundam Lisboa estão a fazer alguma da música artesanal mais estimulante feita em Portugal neste momento, para ser dançada no coração da Lisboa boémia. Esta é a história de Nigga Fox, Marfox, dos colectivos Piquenos DJs do Guetto e Não Maya, da editora Príncipe, e do encontro festivo entre a ‘periferia’ e o ‘centro’ na pista de dança.
Uma massa de corpos move-se freneticamente e sempre que um novo tema é lançado pelo DJ ouvem-se gritos de júbilo. São quase três da manhã, noite de fim-de-semana, num dos espaços mais conhecidos de Lisboa, o MusicBox, ao Cais do Sodré, e dança-se com uma tenacidade que não vê muito por aí, mistura de satisfação e sensualidade.
Vislumbram-se rostos conhecidos da boémia lisboeta, mas há também caras que não são muito habituais por ali, numa salutar mescla de pessoas de cores, idades, roupas e carteiras diferentes entre si, unidas pela música. É um cliché. Mas ali essa utopia parece mesmo realidade. A música que se ouve pode ser serpenteante, mas por vezes torna-se mais ondulante e sensorial. Pode ser kuduro, batida, afro-house, funaná, tarraxinha, ou qualquer outra designação que apenas ouvidos experimentados conseguirão distinguir. Música física feita nos quartos por jovens músicos-produtores portugueses, oriundos dos bairros da periferia de Lisboa, que ali têm hipótese de se expressar na plenitude.
São as noites mensais Príncipe, organizadas pela editora e promotora do mesmo nome, há mais de um ano, que têm ajudado a revelar a música de Marfox, Nigga Fox, ou dos colectivos . Para a maior parte serão ilustres desconhecidos. Para os amigos dos bairros constituem uma referência. Para nós estão a fazer alguma da mais estimulante música artesanal produzida em Portugal.