In punta di piedi (pezinhos de lã)
Para comemorar os 80 anos de vida e 60 de trabalho de Siza Vieira, a Ordem dos Arquitectos pediu a colaboradores do arquitecto que escrevessem sobre o que significa trabalhar com o Pritzker 92. Aqui fica o testemunho de Roberto Cremascoli do gabinete CorArquitectos
Álvaro Siza é um “consumista”, alimenta-se e consome tempo.
Compra e gasta tempo, porque tem tempo para tudo e tem tempo para todos.
Na sua arquitetura não existe hierarquia nos espaços, nada é secundário, também as pessoas são todas iguais, estão todas no mesmo plano: Alvar Aalto acreditava numa sociedade sem classes e ele (o Siza) no mundo dos indivíduos sem títulos de doutores ou de senhores doutores. Aprende tudo com todos.
A sua curiosidade tornou-o um vampiro onde o sangue é tudo o que os seus olhos veem.
Aprendi com ele (e passo a citar) a não ter pressa, saber esperar, ter paciência: que remédio!
Andar com pezinhos de lã.
A desfrutar do silêncio.
Que é uma coisa que funciona, também é bonita.
Que a paisagem é tudo o que está no campo visível.
Não ter medo de dizer feio ou bonito (belo).
Que, às vezes, não vale a pena levar demasiado a sério a vida.
Que não existe génio sem treino.
Que um grande campeão quando corre não mostra o esforço porque tudo é natural.
Que o importante é dar continuidade, a qualquer coisa, mas também transformá-la.
Quando há quase 20 anos me licenciei, o Siza escreveu a apresentação da minha tese, que é o meu tesouro. O texto utilizava palavras como: "a luta corpo a corpo, capacidade de pensamento sincrético, treino de alta competição, intervenções cirúrgicas, serenidade, densidade, silêncio, combates, esforço, paciência, entusiasmo, reserva, prudência e medo". Mas sobretudo uma frase que me acompanha desde então: "A prática da arquitectura deve ser a da Alegria, uma Alegria que possa contaminar os espaços."
Álvaro Siza é um mestre, o meu mestre.
Parabéns!
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico. A versão completa pode ser lida aqui.