Vice-primeiro-ministro turco pediu desculpas e vai encontrar-se com manifestantes

Bulent Arinc pediu desculpa às pessoas que foram vítimas de violência e vai falar com representantes da multidão que tem tomado as ruas de Istambul e outras cidades, depois de ter morrido uma segunda pessoa esta madrugada.

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O vice-primeiro-ministro, Bulent Arinc AFP
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Um manifestante em Istambul BULENT KILIC/AFP
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Quarta noite de violência em Istambul ARIS MESSINIS/AFP
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As redes sociais têm tido um papel relevante nos protestos OZAN KOSE/AFP
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"Apresento as minhas desculpas a todos os que foram vítimas de violência porque são sensíveis à defesa do ambiente", disse Bulent Arin, após uma reunião com o Presidente Abdullah Gül, na ausência do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, que está a fazer uma visita a vários países do Norte de África. "O que fez derrapar as coisas foi a utilização de gás lacrimogéneo pelas forças de segurança, por uma razão ou por outra, contra pessoas que tinham exigências que inicialmente eram legítimas", disse Arinc, citado pela AFP. Mas logo contrapôs: "não penso que tenhamos de pedir desculpa aos que criaram a destruição da propriedade pública nas ruas e que tentam impedir a liberdade das pessoas nas ruas”.     

Mais de 3000 pessoas ficaram feridas nos confrontos com a polícia nas manifestações em Istambul, Ancara e dezenas de outras cidades turcas, segundo a associação de médicos da Turquia. E 26 dos feridos estavam em situação crítica. A fúria das pessoas que participam nas manifestações dirige-se contra Erdogan, o líder do Partido da Justiça e do Desenvolvimento, no poder desde 2002, e a grande figura que tem dominado a cena política turca.

Abdullah Comert foi a segunda vítima mortal nas manifestações iniciadas na semana passada contra o Governo do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP). A polícia anunciou a abertura de um inquérito.

“Abdullah Comert foi gravemente ferido […] por disparos de uma pessoa não identificada”, indicava, na segunda-feira, um comunicado do governo da província de Hatay, perto da fronteira com a Síria. O jovem morreu pouco depois no hospital. Notícias subsequentes dão conta dos resultados preliminares da autópsia, que dizem que terá sido atingido na cabeça por uma lata de gás lacrimogéneo.

Um deputado da principal força política da oposição, o Partido Republicano do Povo, citado pela NTV, disse que Abdullah Comert era membro da organização juvenil do partido.

Uma das principais confederações sindicais turcas apelou entretanto a uma greve de dois dias, a partir desta terça-feira, para denunciar o “terror” do Estado contra as pessoas que saíram à rua para protestar, contestando as políticas de islamização do Governo do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan. A KESK, confederação de sindicatos do sector público, de esquerda, representa 240 mil filiados de 11 sindicatos. 

Na segunda-feira tinha sido anunciada uma primeira vítima mortal: uma pessoa atropelada numa auto-estrada perto de Istambul por onde caminhavam manifestantes, segundo a associação dos médicos turcos. A Reuters noticiou que o condutor do automóvel se lançou contra os manifestantes, o El País que se tratou de um despiste de um taxista devido à presença de pessoas na via de circulação rápida.

De segunda para terça-feira, pela quarta noite consecutiva, os incidentes voltaram. Em Ancara e Istambul, segundo a agência AFP, a polícia lançou gás lacrimogéneo contra centenas de manifestantes que, nas duas cidades, lançaram pedras contra os agentes, noticiou a televisão CNN-Türk.

Em Istambul, onde milhares de manifestantes se voltaram a concentrar na Praça Taksim, gás lacrimogéneo foi usado pelos polícias para desalojarem cerca de meio milhar de manifestantes que ergueram barricadas e fizeram fogueiras no bairro Gümüssuyu. Os agentes também disperaram manifestantantes perto do gabinete de Erdogan, em Besiktas. Em Ancara, no bairro Kavaklidere, foram também usadas balas de borracha.

A situação nas ruas está a cavar um fosso entre o Presidente da Turquia, Abdullah Gül, e o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan. “A democracia não são só eleições”, afirmou Gül, em Ancara. “Não há nada mais natural do que a expressão de várias visões e objecções de diferentes maneiras, para além da via eleitoral”.

Os protestos na Turquia entraram já na segunda semana. O motivo imediato desta onda de indignação popular foi o anúncio de que o parque Gezi, junto à praça central de Taksim, em Istambul, seria destruído para ser reconstruída uma caserna militar otomana com um centro comercial no interior - foi este o motivo "legítimo de protesto" reconhecido pelo vice-primeiro-ministro esta terça-feira.

Mas este foi apenas o gatilho que fez disparar a fúria com as políticas conservadoras e islamizantes do Governo e o ímpeto de lançamento de projectos faraónicos em Istambul.

É que a este descontentamento não é alheia a política de Erdogan e algumas regras que o Governo aprovou nas últimas semanas e que, segundo os observadores, têm como finalidade islamizar a sociedade turca. Recep Erdogan, líder do AKP, é um conservador. O partido é de inspiração islâmica e está no poder há dez anos. Tem imposto uma visão moralista da sociedade que, apesar de maioritariamente muçulmana, é laica.

Recentemente, foi limitada a venda de álcool, assim como a publicidade a este produto. E numa estação de metro de Ancara foi transmitido um aviso sonoro dizendo a um grupo de adolescentes que lá se encontrava que os beijos em público são proibidos. As hospedeiras da Turkish Airlines foram proibidas de usar saias demasiado curtas e justas e baton vermelho — a revista Foreign Policy fala de uma vaga de neo-otomanismo na Turquia, de que faz parte um plano de construção de edifícios de grande envergadura.

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