Flutuador Argo lançado a 25 milhas do cabo Espichel
Pela primeira vez, cientistas portugueses puseram no mar flutuador de rede mundial de observação dos oceanos.
No final da década de 1990, nasceu o Sistema Global de Observação dos Oceanos (GOOS, na sigla inglesa), rede mundial que recolhe dados oceanográficos para previsões ligadas aos oceanos. Ora, uma componente do GOOS é o programa Argo, que pretende cobrir todos os oceanos com estes flutuadores e conta hoje com a participação de mais de 30 países. O projecto Euro-Argo é a contribuição da Europa para o programa internacional e visa criar uma infra-estrutura europeia que faça a gestão dos dados e a manutenção dos flutuadores (cada um dura em média quatro anos).
Portugal não é membro efectivo do Argo, mas a Irlanda é — e o seu Marine Institute perguntou ao Centro de Oceanografia se queria receber de graça um dos seus flutuadores (cada um custa 15 mil euros) para lançar ao mar, o que ocorreu a 26 de Março. “Assim podíamos escolher o sítio”, conta a oceanógrafa Isabel Ambar, do Centro de Oceanografia, explicando que a entrada de Portugal no Argo representaria um valor “diminuto” de alguns milhares de euros por ano. “Escolhemos uma região que no momento actual não está muito povoada com estes flutuadores.” Portugal tem muito mar profundo, o que torna a observação particularmente interessante.
O novo flutuador, já a enviar dados, está agora a dirigir-se para sul. Além da temperatura e salinidade, os dados do Argo permitem conhecer as correntes marinhas, à superfície e a mil metros de profundidade. Poderá assim traçar-se um retrato rigoroso dos oceanos e, por exemplo, incorporar estes dados nos modelos de simulação da circulação oceânica — e, como oceanos e atmosfera estão interligados, fazerem-se melhores previsões meteorológicas.