E pronto, chegou ao fim. Sem grande alarido, com uma (óptima) capa que emula uma caixa de fita perdida no estúdio. Não sabemos se este será o último álbum dos Strokes (certo, certo, é que é o último que restava do contrato da banda com a RCA), mas tem ar de fim de festa. Os Strokes, a banda que com Is This It? e as repercussões que Is This It? teve serviu de farol indicando a porta de entrada nas delícias rock’n’roll do passado e então presente, chegam a Comedown Machine sem qualquer peso nas costas. Não é disco que queira provar o que quer que seja, não é um disco com o qual a banda de Nova Iorque pretenda recuperar a relevância perdida — em parte porque, na verdade, Julian Casablancas e companhia parecem estar-se a borrifar para o estatuto da banda e só querem seguir com a vidinha.
Aqui, ao contrário do que aconteceu no anterior Angles, que só a análise da discografia permite confirmar que existiu mesmo (de tão esquecível é, na verdade, um não-álbum), os Strokes parecem entusiasmados por tocarem juntos e por fazerem o que bem lhes apetece. E apetece-lhes muito. Apetece-lhes seguir as aventuras de Casablancas e solo e eis-nos entre as melhores linhas de sintetizadores que os anos 1980 de A-Ha e Orchestral Manouvers in the Dark nos legaram (One way trigger). Apetece-lhes brincar com quem lhes quis seguir no encalço e eis-nos perante os Phoenix em Slow animals — tal como com os Phoenix, a canção é muita polida, muito cuidada esteticamente, e, tal como com os Phoenix, passa por nós sem causar o mínimo sobressalto, sem que nos recordemos de a ter ouvido três segundos depois de terminar.
Mas os Strokes, estes de Comedown Machine, manta de retalhos criada com despreocupação, estes em que Casablancas ataca o falsete com evidente prazer, têm piada. A guitarra picada de Tap out, logo a abrir, é porta de entrada no melhor plástico 80s, mui dançável, que a fusão entre os Chic e os ABC com uma banda de garagem nos poderia legar. E All the time, com a secção rítmica avançando firmemente colada, com o stomp da bateria a marcar o andamento, um solo à Verlaine e o canto deliciosamene blasé de Casablancas, é um óptimo pedaço de Strokes vintage.
Aqui, ouve-se rockalhada (50/50) que nos recorda entre um par de berros e voz roufenha que os Strokes são, de facto, descendentes do punk nova-iorquino. E ouve-se uma banda que já passou essa fase há muito. Hoje, não querem ser nada em especial. Parecem felizes por, muito simplesmente, gravarem canções juntos. O resultado é um álbum que não ficará na história, que não lhes trará novos fãs, que afastará mais alguns do antigos. Nada de novo. A diferença é que dantes os Strokes pareciam preocupar-se com isso. Agora não. Agora gravaram um álbum falhado. Mas gracioso.