Um conto coreano de primavera

Nobody's Daughter Haewon, do coreano Hong Sang-soo, é uma simpatia de filme em modo muito francês

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Novo filme de Hong Sang-soo mostra uma mulher forte num mundo de homens indecisos

Nobody's Daughter Haewon respeita o habitual “caderno de encargos” da obra do cineasta: produção minúscula em orçamento quase inexistente; narrativa frágil, quase improvisada, ao sabor do vento; humor em câmara lenta; leveza quase diletante. Hong tem sido comparado ao mestre francês Éric Rohmer – embora sejam cinemas muito diferentes, há traços em comum que não são dispiciendos, sobretudo no modo muito ligeiro como se fala de coisas sérias.

O novo filme podia ser um conto de primavera (para citar um título de Rohmer). É a história de uma aspirante a actriz que reata o affaire que tinha com o seu professor de cinema casado, mas é muito mais, na verdade, sobre uma rapariga de espírito livre e o modo como a sociedade que a rodeia parece estar sempre a dizer-lhe que há de se dar mal com isso. 

Haewon está-se razoavelmente a borrifar para o que os outros pensam, sabe muito bem o que quer da vida, é uma espécie de “mulher forte” no centro de um mundo de homens fracos ou indecisos – o que não deixa de ser um passo em frente para um cineasta que tem passado os últimos filmes a investigar a psique etilizada do intelectual coreano. 

A ligeireza a meio caminho entre a displicência e a frivolidade de Hong explica certamente a sua popularidade junto da crítica gaulesa, e a presença de Jane Birkin numa fugaz participação amigável apenas sublinha como este cinema está muito mais próximo de uma versão asiática, minimalista, de um certo cinema de autor francês que já nem os franceses hoje fazem. Nobody's Daughter Haewon é uma simpatia de filme. 

 
 
 

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