Inquérito não detectou causas do "deslizamento" que provocou o acidente de Alfarelos
Relatório ao acidente ferroviário é inconclusivo, não havendo mais do que pistas sobre as causas do embate de dois comboios naquela estação.
O documento divulgado nesta sexta-feira pela Refer, CP e Instituto da Mobilidade e dos Transportes, só é conclusivo naquilo que correu bem: a sinalização estava a funcionar devidamente e o maquinista do Intercidades agiu correctamente, ao tentar imobilizar a composição, tendo accionado o freio de emergência e os areeiros (recipientes com areia que é despejada sobre os carris para aumentar a aderência das rodas).
O computador de bordo (Convel) também estava operacional e actuou automaticamente, mas o relatório refere que a frenagem de emergência foi tardia e que o comboio acabou por embater na automotora regional à velocidade de 42 km/hora. Os técnicos tiraram duas conclusões: “Houve falta de aderência entre a roda e o carril” e “as condições de aderência encontravam-se degradadas”, tal como o PÚBLICO já tinha avançado.
O problema é que não se descobriu a causa para essa invulgar falta de aderência. O documento diz que “a comissão de inquérito percorreu a via ascendente, da Linha do Norte, entre o local do acidente e o PK 195,600 [ponto quilométrico] efectuando uma análise visual, não tendo detectado óleo ou outras gorduras na via, vegetação ou outras causas que pudessem provocar uma diminuição da aderência entre a roda e o carril”.
O relatório recomenda uma restrição de velocidade a 30 km/hora naquele troço de via (os comboios que não efectuam paragem em Alfarelos costumam ali passar à velocidade máxima de 120 km/hora) e a realização de um ensaio de linha com uma composição idêntica à do Intercidades acidentado, “simulando condições de circulação semelhantes em termos de velocidade e locais de aplicação do freio”. Esse ensaio deverá ter lugar à noite e com os carris molhados.
Estas conclusões preliminares são assinadas por dois técnicos da CP e dois da Refer e validado pelo presidente do IMT, João Carvalho, uma vez que a entidade que deveria investigar o acidente está sem director e sem quadros: o Gabinete de Investigação de Segurança e de Acidentes Ferroviários (GISAF), criado por transposição de uma directiva comunitária que obriga os Estados-membros a ter um órgão independente para estes fins, está sem director há três anos e só tem uma funcionária administrativa.