O Impossível

Há dois ou três momentos em O Impossível em que percebemos que o catalão J. A. Bayona quis reduzir o filme-catástrofe à nudez da dimensão humana tantas vezes esquecida pelo género, fazer passar através dos actores o terror de ter vivido (e sobrevivido ao) “impossível” do título - o tsunami de 2004 que devastou a costa da Tailândia. Ewan McGregor a desfazer-se em lágrimas no meio de outros sobreviventes, Tom Holland a entrar em pânico ao perder de vista a mãe no hospital, Naomi Watts a ser transportada em dor numa porta improvisada maca. Nesses momentos, O Impossível (que ficciona a partir da história verídica de uma família espanhola que sobreviveu ao tsunami) eleva-se acima do telefilme de luxo que é durante a maior parte da sua duração; revela um outro filme, mais perturbante e incisivo, do que aquele que acaba por ser com a sua ostentação discreta de efeitos visuais, o seu arco narrativo convencional, a sua banda-sonora que sublinha a traço grosso o que o espectador suposto sentir. Há que dizer que Bayona não desbarata o capital adquirido com a sua excelente estreia, O Orfanato (2006), e que, sobretudo a partir do meio, O Impossível ganha uma solidez que até aí estava meio afogada. E há que elogiar os actores, Watts, McGregor e a revelação que é o jovem Holland (que só ela tenha sido nomeado para o Óscar é uma vergonha, porque eles merecê-lo-iam tanto ou mais), por uma entrega que está sempre do lado certo da emoção.

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