O arquitecto das mesas aranha
Patrício Guedes inspirou-se em aranhas e em guindastes para produzir artesanalmente uma mesa de apoio
Patrício Guedes é um arquitecto que actualmente se dedica ao design de mobiliário. A oportunidade surgiu por acaso, quando em 2010 recebeu uma encomenda para uma peça na Galeria Santo André, no Porto. "Pouco tempo depois, e com alguma surpresa, fiz dois trabalhos para a casa do Mestre Manuel Cargaleiro, ambos construídos no mesmo espaço. Então surgiu a possibilidade de desenhar uma mesa de apoio. Seguiram-se as mesas Aranha”, aponta o arquitecto.
A pequena mesa de apoio foi produzida artesanalmente (construção tradicional) e sofreu influências de "estruturas que carregam: guindastes". "O carácter da mesa, entre o banal e o singular, é evidenciado pelas pernas — um desafio de estrutura, de proporções e de articulações", pode ler-se na descrição do objecto, que, num segundo momento, se aproximou da fisionomia das aranhas.
De origem portuense, Patrício licenciou-se na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP). Teve também formação académica na Accademia di Architettura di Mendrisio, na Suíça, onde estudou com Peter Zumthor e Valerio Olgiati.
A sua primeira experiência profissional aconteceu na Suíça, em Basileia, no escritório de Herzog & Meuron. Desde 2007, tem colaborado no escritório de Camilo Rebelo.
Para o arquitecto, a inspiração para a criação das suas peças é a essência do objecto. Durante a conversa com o P3 repetiu as suas inspirações: “temas" e "imagens". "Raras vezes se sobrepõem e coincidem. Durante o processo vou percebendo o que mais me interessa. As maquetas ajudam muito a clarificar. Esquissos e colagens também fazem sempre parte do meu processo de estudo. Tento perceber o que é determinado objecto para mim, isso é o fundamental. Procuro a sua essência”, afirma Patrício.
Em relação ao processo do fabrico das suas peças, Patrício diz que “todos os objectos, independentemente do custo, possuem um elevado rigor e qualidade, refinados na escolha dos materiais e extremamente simples nos detalhes e nos princípios construtivos”.
As mesas-aranha já estiveram disponíveis no Museu de Serralves (entre Abril e Maio de 2012) e no The Oporto Show, em Junho deste ano.
O arquitecto tem preferência por madeiras nobres e madeiras maciças. É o seu material de eleição porque é um “material especial". "Pode ter grandes variações de cor e textura mesmo se usarmos o mesmo tipo. Do mesmo lote conseguimos peças distintas, unicamente pelo material”.
Patrício Guedes começou por desenhar peças únicas para clientes particulares, mas foram essas oportunidades que permitiram ao arquitecto a criação de várias peças. Actualmente, desenhou “mais peças únicas do que para comercializar”. Para além de adaptar peças específicas, Patrício quer “concluir as que estão em desenvolvimento e continuarei a desenhar novas peças”.
A avaliar o feedback do público como “excelente”, fica reservado para o futuro o desejo de “crescer nas vendas e no número de peças disponíveis”. Apesar do seu interesse no design de mobiliário, Patrício admite que pretende “continuar a desenvolver este tipo de trabalho, continuando a ser arquitecto”.