Para um filme que procura tão esforçadamente traduzir em imagens a vertigem libertária do mítico livro de Jack Kerouac, é precisamente liberdade o que falta à adaptação de Walter Salles. Raras vezes um filme terá sido tão habitado pelo desejo da viagem estrada fora sem nunca realmente a conseguir traduzir em imagens - Salles fica sempre prisioneiro das paragens, das casas, dos espaços confinados onde o essencial se passa. Isso até podia fazer sentido - afinal, estamos a falar de um desejo de liberdade que se confronta com a realidade encontrada “pela estrada fora” - mas acaba por tombar num banal melodrama sobre um rapaz que procura uma figura paternal, um herói que lhe mostre um caminho, condenado ao desencanto porque os heróis têm sempre pés de barro. Percebe-se uma vontade sincera de fazer justiça ao livro, mas nem a fotografia de Éric Gautier nem a performance de Garrett Hedlund chegam para dar a Pela Estrada Fora a voragem sôfrega que era exigida. Ficamos, em vez disso, com um fascínio confundido pelo mito.
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