Pussy Riot descreve a sua "antivida" na prisão
Carta de Maria Aliokhina, uma das Pussy Riot, foi publicada por semanário russo
Aos 24 anos, a artista de cabelo ruivo-alourado com um ar fágil, que muitas vezes se apresentava com uma fita no cabelo, mãe de uma criança pequena, foi condenada a dois anos de prisão por ter cantado uma “oração punk” na catedral de Cristo Redentor, a dois passos do Kremlin, em Fevereiro, pedindo à Virgem que espantasse Vladimir Putin para longe do poder, num julgamento que gerou indignação internacional.
Na sua carta, Aliokhina, que escreve poesia e esteve envolvida em activismo ambiental, relata uma rotina tão agrilhoante como a perda de liberdade. “A minha experiência pode ser útil a muitas pessoas”, diz, reconhecendo que vai “usar palavras para descrever o impossível”.
O campo onde foi colocada – uma das piores alternativas, disse a defesa – é "um mundo morto”, onde os prisioneiros se sentem “desnecessários, deitados fora”. Fica na “zona” – a palavra usada nos tempos soviéticos para evocar os campos de detenção – “rodeada de fábricas”, onde se respiram fumos tóxicos, numa zona bastante remota, afastada de tudo.
“É uma antivida”, diz Aliokhina. A hora do despertar é às 5h30, e 40 mulheres dirigem-se ao mesmo tempo para uma casa de banho com três lavatórios e duas sanitas. O pequeno-almoço é às 6h00. No início deste mês, a Pussy Riot foi castigada por não acordar à hora prevista – e antes tinha sido colocada em isolamento, por não ter o comportamento previsto.
“Vou ter de correr constantemente durante o próximo ano e meio”, escreveu Aliokhina, numa tradução colocada online pelo jornal turco Hurriyet Daily News. “Estou a começar a habituar-me.”
Quanto as mulheres chegam àquela prisão, e ficam em quarentena, têm de aprender as regras da prisão de cor, numa sala especial onde há uma câmara de segurança para verificar se não adormecem.
Que se habituem
O seu trabalho diário é coser, 12 horas por dia, pelo qual recebem 1000 rublos por mês – o equivalente a quase 25 euros. “Não se queixar, denunciar e fazer cair em ratoeiras as outras prisioneiras, renunciar aos seus últimos princípios, calar-se e suportar, habituar-se”, explica Aliokhina.
“Tudo o que uma prisioneira faz é a pensar na possibilidade de ser libertada mais cedo, de poder sair em liberdade condicional”, escreve. Se forem rezar, isso conta como pontos positivos – apesar da Rússia ser um Estado laico, indigna-se. “Não querem personalidades, querem pessoas que se habituem”.
A sua companheira Nadia Tolokonnikova, também condenada a dois anos de prisão, e mãe de uma criança pequena, está presa noutra colónia penal, na região de Mordóvia, conhecida pela sua rede de campos do tempo soviético.
Tanto Nadia Tolokonnikova como Maria Aliokhina são prisioneiras de consciência às quais a Amnistia Internacional está a pedir que se escrevam cartas este ano.
Quanto à terceira Pussy Riot condenada em Agosto, Yekaterina Samutsevich, foi libertada em Outubro, após um juiz ter deliberado, num recurso apresentado pela banda, que ela tinha sido detida pelos seguranças da igreja antes de a actuação da banda ter começado. A sua libertação só aconteceu depois de ela ter dispensado os advogados que defenderam a banda durante o mediático julgamento – que ela diz que se preocuparam mais em fazer declarações políticas do que em defendê-las, segundo disse ao Financial Times.