Fazem casamentos parecerem-se com produções de cinema ou de revista de moda. Filmam em alta definição e fotografam os noivos, dias depois do casamento, em sessões “trash the dress”. São eventos como estes que permitem a aposta em outros trabalhos, os favoritos, durante o resto do ano, mas também há os que gostam de participar num momento feliz na vida de um casal. Nunca se imaginaram a fazer isto e fogem à imagem que nos vem à memória sempre que pensamos na equipa de imagem deste tipo de festas.
Gabriela Santomé estudou Cinema e Audiovisual na Escola Superior e Artística do Porto. Não se emociona em casamentos — na maior parte das vezes não está, sequer, a ouvir o que o padre diz, apesar de estar sempre atenta ao momento em que tem de agir. Fez o primeiro casamento em 2010. E só em 2010 foram 30: filmagens e edição. Tem 25 anos e trabalhou, durante vários meses, num estúdio fotográfico de Leça da Palmeira. Saiu por más razões mas aprendeu muito quando lá esteve; aliás, aprendeu tudo o que sabe hoje sobre a área.
Ao ingressar no ensino superior, queria trabalhar em produção de cinema. Ainda quer, mas para isso é preciso ter “ou muito tempo ou muito dinheiro” e o empréstimo universitário que contraiu para terminar o curso obriga-a a trabalhar fora da área. Gosta de filmar casamentos mas nunca se imaginou a fazer tal coisa.
Não é a única. Miguel Oliveira também não sabe muito bem como fez o primeiro: um amigo fotógrafo precisou de ajuda e lá foi ele. É que Miguel, de 21 anos, começou por estudar arquitectura. Não gostou e decidiu mudar-se para o Instituto Português de Fotografia. Ainda não trabalhou em muitos casamentos, mas já percebeu como tudo funciona, de que é que o mercado precisa.
Trabalhar no Verão, poupar no Inverno
Miguel, que também colabora com sites noticiosos e é um dos fundadores do Frontstage, um magazine dedicado à música, gosta é de fotografar concertos. Aquilo que consegue ganhar em casamentos, aliás, ajuda-o a poder fazer o que mais gosta nos meses mais parados. Tal e qual como os três amigos do Porto que integram a Ctrl+n Produções.
Teresa Pacheco Miranda (24), João Ribeiro (24) e António Vasques (23) nunca pensaram vir a trabalhar em casamentos, sempre preferiram outro tipo de vídeos. “Não me via nada a fazer casamentos mas, apesar de tudo, até tem o seu quê de piada. Não é fácil, dá alguma luta e é um dia em que não podes perder nada”, reflecte Teresa, que está a terminar a licenciatura em Tecnologias e Comunicação Multimédia da ESMAE.
Mas para os amigos, que estudaram juntos Imagem Interactiva no Instituo das Artes e da Imagem, o orçamento fica mais equilibrado quando aceitam este tipo de trabalhos. “O problema [dos casamentos] é que é quase só numa altura do ano”, explicam, entre Maio e Setembro. Quando a temperatura diminui, as propostas também. Na Ctrl+n Produções, criada no início de 2012, gerir o dinheiro é o mais importante, a par de procurar trabalho para a época seguinte.
Investiram há pouco tempo em material e estão a pensar alugar um espaço próprio para criarem um escritório. Querem um sítio onde possam trabalhar com rotinas e receber pessoas — todos trabalham, de momento, em casa. “Estamos no início e, por isso, preferimos ter menos dinheiro e mais trabalho, para entrarmos no mercado”, diz António Vasques.
Uma marca comum nos vídeos e fotografias que fazem de casamentos? “Dizem-nos que temos uma imagem própria e que tentamos transmitir muita energia nos vídeos”, indica António. “Pode nem ser nada de especial, talvez o toque dos três funcione.”
Do marketing à fotografia
Tânia Afonso aponta a atenção aos detalhes como a sua principal característica enquanto fotógrafa. É a partir deles que esta lisboeta de 32 anos desenvolve o seu trabalho. Esteve sete anos ligada ao marketing e foi a chegada de um filho que a fez mudar de ideias e “apostar num negócio próprio”.
Quando se voltou para a fotografia, começou por se focar em famílias: grávidas, bebés, crianças. E os casamentos, “que foram um acaso feliz”, acabaram por se transformar “numa enorme paixão: a de viver o dia mais feliz na vida de um casal”.
Para Tânia, assim como para Miguel, fotografar um casamento não passa, apenas, “por ter o melhor equipamento do mercado”. “A componente técnica é de extrema importância, mas não tanto quanto a humana”, defende. “Todo o processo de conhecimento mútuo e a concordância é fundamental para que o trabalho seja bem conduzido.”
Já Gabriela acha que, “se tiver o material certo”, os planos da igreja podem ser “autênticas fotografias em alta definição” que nada têm a ver com o que se fazia antigamente, quando apenas uma pessoa ia filmar. “Temos de estar sempre preparados para o que vai acontecer porque nada se pode repetir.”