O Instagram já não pode ser definido como espaço de partilha de fotos com aspecto vintage. É, sim, uma rede social (e daí o interesse do Facebook em comprá-la) cada vez mais democrática (sim, a exclusividade para iPhones já era) e usada para os mais inusitados fins — como por exemplo fazer uma espécie de "quiz" literário chamado Bookstragram.
O Bookstagram é, como a própria criadora @binatravassos define no Facebook, "uma brincadeira sobre livros". Fotografam-se excertos de obras em papel e, depois, partilha-se a imagem usando a "hashtag" #bookstagram (uma etiqueta que permite classificar e procurar as imagens) seguida de um número. Os demasiados membros da comunidade têm então de adivinham quem é o autor da citação fotografada. Neste momento, o Bookstagram tem mais de 1300 seguidores e já realizou 30 "quizes" literários.
Vejamos um exemplo: "Lugar sem comportamento é o coração". Quem escreveu este verso? A resposta ao desafio lançado há cinco dias pela utilizadora @monicaramalho é dada, correctamente, no mesmo dia por @tassiof: "Manoel de Barros, o homem que jorra poesia como a água brota da pedra". Assim funcionam os "quizes" literários no Instagram.
Uma "hashtag" de bibliófilos
A etiqueta #bookstagram já é usada há algum tempo e para diferentes fins. Neste momento há mais de 620 imagens etiquetadas com a "hashtag". A primeira imagem assim classificada com foi feita por @liveformemories, há 49 semanas (o tempo é contado em horas, dias e semanas no Instagram), e mostra um gato a debruçar-se sobre um livro aberto (o animal, na verdade, está de olho no gelado que a dona está a comer, descobrimos depois ao ler a legenda). Não estava ainda em prática o conceito de "quiz" literário.
Grande parte das fotografias classificadas com a etiqueta #bookstagram não mostra exactamente excertos, mas sim capas de livros, bibliotecas, estantes, uma sequência de lombadas numa prateleira. Tudo leva a crer, portanto, que a "hashtag" começou por ser usada para designar, de um modo genérico, fotos relacionadas com livros. E só depois surgiu a brincadeira de adivinhar quem é o autor.
Claro está que o desejo de partilhar excertos de livros não é propriamente uma novidade. Isto é o que os humanos fazem desde que os livros existem (presumimos). E, sendo o Instagram uma ferramenta de partilha de imagens com legendas, é natural que seja usada para transmitir e expressar aquilo de que os seus utilizadores gostam.
Em Portugal, vários bibliófilos usam o Instagram para destacar passagens dos livros que estão a ler. Por vezes usam ferramentas para tornar baças as partes da página que não querem destacar. E nem sequer usam a "hashtag". É o caso, por exemplo, de José Mário Silva, jornalista, escritor e autor do blogue Bibliotecário de Babel. Esta semana, @josemariosilva partilhava uma página onde se lia "Atravessarás, fractal a fractal, toda a geometria". Ninguém adivinhou o autor.