Documentos revelam escândalo de abusos sexuais a escoteiros nos EUA
Deverá demorar alguns dias até que se saiba tudo o que está nas 14.500 páginas divulgadas nesta quinta-feira por ordem do Supremo Tribunal de Oregon, mas o advogado Paul Mones garante que relatam “a angústia de milhares de escoteiros” da organização Boy Scouts of America que foram abusados sexualmente pelos seus líderes. Há mais de 1200 suspeitos de pedofilia referidos nos documentos a que a imprensa norte-americana se refere como “os ficheiros da perversão”.
Mones e o seu colega Kelly Clark, de Portland, travaram desde 2010 uma batalha legal para que os documentos fossem tornados públicos, até que tiveram autorização do tribunal e anunciaram que os iriam divulgar no site kellyclarkattorney.com nesta quinta-feira, dois anos depois de terem ganho um processo em que a Boy Scouts of America foi condenada ao pagamento de cerca de 20 milhões de dólares depois de ter ficado provado que um monitor da organização tinha abusado sexualmente de um rapaz escoteiro.
Segundo a Associated Press, que teve acesso aos documentos, os ficheiros divulgados nesta quinta-feira demonstram que vários líderes dos escuteiros, responsáveis da polícia e procuradores, em diversas cidades dos EUA, procuraram encobrir as acusações de abusos, enquanto a organização de escuteiros norte-americana garante ter feito tudo para proteger as crianças que participavam nas suas actividades.
A Boy Scouts of América sempre se opôs à divulgação dos documentos, adiantou que iria reavaliá-los e denunciar os alegados autores de abusos sexuais que não tivessem sido investigados, até que, em Junho, o Supremo Tribunal de Oregon determinou que os ficheiros poderiam ser tornados públicos se não fossem divulgados os nomes das vítimas.
“Não podemos manter estes segredos”
Kelly Clark tinha estes documentos em sua posse desde Abril de 2010, quando ganhou o caso que levou a Boy Scouts a pagar cerca de 20 milhões de dólares e no qual cerca de 1200 suspeitos de abusos sexuais de menores foram referenciados. “Não podemos manter estes segredos em relação a perigos para as crianças”, defendeu Clark durante uma conferência de imprensa que deu nesta quinta-feira em Portland.
Por vezes as acusações levaram a os suspeitos de pedofilia fossem afastados da organização de escoteiros, mas muitas vezes isso não aconteceu, adianta a Associated Press. A própria Boy Scouts divulgou recentemente um relatório em que refere que em cerca de dois terços dos casos de alegados abusos sexuais ocorridos entre 1965 e 1985 a polícia foi notificada. Noutros casos os suspeitos foram convidados a abandonar a organização mas as autoridades nunca foram informadas. Alguns suspeitos ou acusados voltaram a integrar os escoteiros após tratamento psiquiátrico.
Antes de os documentos serem divulgados, Wayne Perry, presidente da Boy Scouts, admitiu que “houve situações em que algumas pessoas aproveitaram a sua posição para molestar as crianças e, em alguns casos, a resposta a isso e os esforços para protegê-las foram claramente insuficientes, desadequados e incorrectos”.
Não se sabe ao certo quantas foram as vítimas de abusos sexuais, mas o advogado Paul Mones garante que foram “milhares” e que “a maior parte nunca contou a ninguém”.
Num dos casos revelado nos documentos, ocorrido em 1976, um líder dos escoteiros do Colorado, referido como Floyd Slusher, ameaçou de morte a criança que abusara sexualmente e a sua família. Enquanto esteve nos escoteiros chegou a ser acusado mais do que uma vez.