Morar em Hong Kong: a cidade vertical vista por Pedro Dias, um arquitecto de 37 anos

Pedro Dias mudou-se para Hong Kong há um ano, depois de uma passagem por Macau. O Oriente sempre o cativou, o que facilitou a adaptação. Viajante nato, só pensa em regressar quando as condições sociais mudarem

Pedro Dias e arquitecto em Hong Kong e tem um blogue sobre viagens
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Pedro Dias e arquitecto em Hong Kong e tem um blogue sobre viagens
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Quando se pronuncia o nome “Hong Kong” fazem-se, de imediato, várias associações. Foi cenário em vários filmes de Bruce Lee e local habitual de passagem de James Bond durante a Guerra Fria. Mas também é vista como um dos maiores centros da arquitectura moderna e uma das grandes capitais financeiras do mundo. Quem a conhece descreve-a como o local onde “o Oriente encontra o Ocidente”.

Pedro Dias estudou Arquitectura e Planeamento Urbano na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, cidade onde nasceu. Começou por trabalhar em Portugal mas nos últimos anos tem exercido a sua actividade profissional além fronteiras. Passou por Amesterdão e Macau, até se estabelecer em Hong Kong, onde é Senior Architect no atelier britânico Benoy Architects, integrando uma equipa de 300 arquitectos de várias nacionalidades. Actualmente, Pedro Dias é o responsável pelo "concept design" de “um projecto multifuncional gigantesco (que compreende um "street mall" de 90.000 m2, dois hotéis, um teatro, um centro de congressos e um parque temático), de escala inimaginável na Europa, para a cidade de Qingdao (norte da China)”, explica.

E porquê Hong Kong? Para Pedro Dias, viajar não é propriamente uma novidade. Começou por fazê-lo “desde muito cedo", quando acompanhava regularmente a mãe nas viagens que ela empreendia a congressos internacionais. E foi numa dessas viagens que, com 14 anos, visitou Hong Kong pela primeira vez: “uma cidade que na altura me impressionou imenso, sobretudo pelo respectivo 'skyline' e pelos ambientes urbanos algo exóticos e decadentes". "Nunca imaginei que acabasse por vir para cá viver”, confessa. Mas foi e está a gostar da experiência.

No entanto, a escolha de Hong Kong para desenvolver a sua actividade enquanto arquitecto não foi casual. Durante dois anos, Pedro e a sua companheira Matilde (também ela arquitecta) trabalharam em Macau. Nesse período deslocavam-se a Hong Kong “pelo menos uma vez por mês para respirar e quebrar um pouco a monotonia de Macau". A cidade afirmou-se como uma "escolha natural e de circunstância, nada planeada". "Candidatei-me a uma dúzia de ateliers e resolvi aceitar uma proposta de trabalho”, esclarece.

A Nova Iorque do Oriente

Hong Kong é várias vezes comparada com Nova Iorque, sendo descrita como uma espécie de clone oriental da cidade norte-americana. Pedro Dias confirma as semelhanças em alguns aspectos. Hong Kong, diz, é uma cidade com “um 'skyline', um ambiente urbano e um ritmo impressionantes aos quais se é impossível ficar indiferente". "Ou se gosta, ou se detesta. Aqui tudo acontece a uma velocidade estonteante e, para se viver aqui, é preciso ter-se muita capacidade de adaptação e uma mente muito aberta à diferença e a um estilo de vida completamente diferente daquele a que estamos habituados em Portugal. São sete milhões de pessoas, com hábitos e maneiras de ser muitos diferentes dos nossos, a acotovelarem-se num espaco relativamente pequeno." Mas nem tudo é pura agitação. “O curioso é que Hong Kong também tem zonas rurais mais tranquilas, ilhas e praias onde se pode relaxar. Este é um lado menos conhecido desta cidade, mas essencial para se conseguir uma harmonia de espírito por estas bandas”, salienta.

Sendo um local cosmopolita por eleição, Hong Kong tem coisas boas e outras menos boas. Pedro aponta como aspectos positivos “as milhares de luzes e néones que a polvilham", o " exotismo e colorido dos respectivos mercados", "a comida", características que a tornam uma "cidade vibrante e multicultural", com a vantagem de ter zonas tão distintas "como o campo e a praia". Menos agradável é o “excesso de concentração de pessoas, agitação e confusão que se vive nas ruas”. Além disso, refere ainda o facto de os chineses serem pouco afáveis e de tudo rodar muito em torno do dinheiro.

De resto, e quando confrontado quanto à possibilidade de regressar a Portugal, Pedro é bastante esclarecedor e directo: “Dificilmente voltarei enquanto a actual crise económica estiver ao rubro, pois neste momento as possibilidades de arranjar trabalho são mesmo muito diminutas. É pena, pois Portugal é um país fabuloso para se viver e do qual nos devemos orgulhar. Apenas no que toca a questões relacionadas com trabalho e perspectivas de futuro o nosso país deixa muito a desejar.”

As saudades, essas, são muitas e em vários aspectos. Mas, curiosamente, não se sente um emigrante. “Apesar de estar neste momento a viver no estrangeiro sempre me considerei um viajante e não um emigrante... Um emigrante vai e nem sempre volta. Um viajante vai mas, mais tarde ou mais cedo, acaba por voltar. Neste sentido a minha intenção é, no futuro, voltar a Portugal, país que adoro e do qual sinto imensas saudades. Só não sei é exactamente quando.” Uma coisa é certa — quanto mais viaja, mais gosta de Portugal.

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