David está a coordenar a construção de uma central fotovoltaica na Guiné-Bissau

Licenciado em Psicologia, David Afonso, 33 anos, está a viver em Bafatá e tem a missão de levar luz às casas de Bambadinca

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David Afonso com Linda Candé, presidente da ACDB DR

Só precisou de um fim-de-semana para decidir mudar de vida. David Afonso, 33 anos, licenciado em Psicologia, deixou Portugal e está na Guiné-Bissau a coordenar um projecto, que passa pela construção de uma central fotovoltaica, que levará luz às casas da vila de Bambadinca. “É o maior desafio profissional da minha (curta) vida, mas também o mais estimulante”, diz por email, a partir da Guiné-Bissau, ao P3.

Em Agosto, uma colega encorajou-o a concorrer a um cargo de coordenação da Organização Não Governamental (ONG) TESE - Associação para o Desenvolvimento, na Guiné-Bissau. David reflectiu durante um fim-de-semana e chegou a uma conclusão “óbvia”: “Mudar de vida”. Em Outubro, partiu.

Hoje vive em Bafatá e, para além da coordenação de toda a actividade da TESE na Guiné-Bissau, está à frente do projecto Bambadinca Sta Claro - nome em crioulo que significa “Bambadinca tem luz”: “Basicamente, iremos construir uma central fotovoltaica e capacitar uma associação comunitária para a gestão do serviço de energia, que beneficiará cerca de 6500 pessoas. Em finais de 2013 a luz chega às casas de Bambadinca”, explica sobre o projecto promovido pela TESE-Engenheiros Sem Fronteiras, em parceria com ONG DIVUTEC, o Instituto Superior Técnico, e com apoio técnico da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e financiamento da União Europeia e Cooperação Portuguesa.

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Em princípio, vai ficar na Guiné-Bissau até 2015, “talvez mais” DR

Apesar de ter estudado Psicologia na Universidade no Minho, na área clínica, David Afonso percebeu que “o cara a cara da consulta” o deixava desconfortável. Assim que surgiu uma oportunidade para se aventurar por novos territórios, rumou até Moçambique como voluntário.

“Na Zambézia, a província mais pobre do país, bem no meio do mato, fui professor de Geografia (é verdade!) para 6.ª e 7.ª classe e promotor de saúde rural, ou seja, formação a líderes comunitários em higiene e saúde materno-infantil”, conta.

Galinha à zambeziana

Sentiu-se melhor ali, onde os locais o convidavam várias vezes para comer “uma galinha à zambeziana”, do que num consultório: “Foi muito bom. A vida era calma e deu para perceber como se vive num sítio onde o Estado é ausente e as pessoas, apesar disso, vivem tranquilamente”.

Depois dessa experiência, regressa a Portugal: trabalhou na acção social do município de Santa Maria da Feira e num projecto de Redução de Riscos, ligado à toxicodependência, em Matosinhos. Segue-se a TESE, ONG da qual faz parte desde 2008.

Em princípio, vai ficar na Guiné-Bissau até 2015, “talvez mais”: “A experiência é muito enriquecedora. Em termos profissionais, aprendi mais nos últimos meses do que nos últimos anos. Em termos pessoais, reaprendi a viver sem consumir e a estar sozinho sem ficar ansioso por vida social”, diz.

Estava lá durante o golpe de estado: recorda-se de estar a ouvir a emissão na rádio e de esta ter sido interrompida de repente por ordem do comando militar. Foi “adrenalina total ao início, apreensão e revolta pouco tempo depois”.

Ainda não sabe o que vai fazer quando o projecto na Guiné-Bissau terminar. Talvez umas férias, dar a volta ao mundo… Ou, então, vai até ao Alentejo e relembrar Bafatá.

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