Braga ainda guarda muitos tesouros que o público não pode ver

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Salão Egípcio foi, até há 11 anos, a sede local do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio

Até o turista mais informado pode dar com o nariz na porta. Alguns dos edifícios e espaços monumentais mais interessantes de Braga estão fechados ao público e só podem ser visitados com autorizações especiais. Os visitantes queixam-se e os operadores turísticos reconhecem a inconveniência da situação. A Câmara de Braga e os proprietários dos espaços em causa dizem-se "abertos" à procura de uma solução, mas até ao momento não tomaram quaisquer iniciativas nesse sentido.

O acesso está vedado a palácios do barroco, capelas de estilo rococó e a igrejas com várias influências e estilos. Mas há também exemplos de espaços com interesse patrimonial mais recentes que estão vedados ao público, como é o caso do Salão Egípcio. Esta sala de um edifício setecentista da Rua do Souto albergou, até há 11 anos, a delegação local do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio e tem vindo a degradar-se. As paredes da sala são um exemplo tardio do romantismo, pintadas em 1937, com motivos egípcios. O prédio foi comprado por uma promotora imobiliária, para construir um centro comercial naquele quarteirão, e as visitas não são autorizadas.

Outro exemplo é a Capela dos Monges desenhada por André Soares entre 1761 e 1766, no Convento dos Congregados, em plena Avenida Central. O local está habitualmente fechado, mas lá dentro está a "obra-prima" do mestre bracarense, diz o historiador de arte Eduardo Pires de Oliveira. A capela é pequena, do tamanho de uma qualquer sala de um apartamento, mas junta uma peça de arquitectura rara e um pequeno retábulo monumental.

Do outro lado da avenida, está a Casa das Convertidas, propriedade do Ministério da Administração Interna, que apresenta sinais claros de degradação. Lá dentro, uma capela com características únicas: é a única que conserva a decoração original intacta, tal como foi feita em 1722. Também não pode ser visitada, tal como outra obra de André Soares, o Palácio do Raio, que está encerrado há mais de um ano, desde que deixou de albergar o Hospital de S. Marcos (ver caixa).

As igrejas da cidade também raramente estão abertas, especialmente durante a tarde, excepção feita à Sé. Estes exemplares do património bracarense podem ser visitados, mas isso implica conhecer previamente os locais e pedir autorização para os visitar. "Para vermos todas as igrejas de Braga, precisamos de três dias. Mas, para procurarmos as chaves de todas elas, precisávamos de mais um dia", ilustra Eduardo Pires de Oliveira.

A situação provoca queixas dos visitantes, especialmente junto dos operadores turísticos. "As pessoas não entendem como é possível chegar a uma igreja e esta estar encerrada", conta ao PÚBLICO o responsável, que não quer ser identificado, de uma empresa de Braga que presta serviços a uma agência de viagens estrangeira. As queixas partem também dos turistas mais jovens, conta Helena Gomes, do Pop Hostel. Os clientes dizem que "há pouca informação". "O próprio posto de turismo fecha para almoço e à tarde fecha às 18h", ilustra.

A Câmara de Braga admite que é possível fazer mais para tornar o património local mais acessível e diz-se "disponível" para procurar uma solução com os proprietários. Mas essa é uma questão "que nunca foi levantada", garante o vice-presidente da autarquia, Vítor Sousa. A maior parte do património local pertence à Igreja Católica e qualquer passo nesse sentido carece do apoio das entidades religiosas. A Igreja não tem recursos para manter todo o seu património aberto e, à falta de pessoal, prefere fechá-las para o proteger de eventuais furtos. Mas, com apoios, admite mudar de posição. "Seria bom que se estudasse uma estratégia, pelo menos para não privarmos os visitantes do mais significativo", sustenta o vigário-geral da Arquidiocese de Braga, José Paulo Abreu.

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