Cipreste do Príncipe Real luta pela vida aos 140 anos de idade

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O declínio da árvore foi acentuado há dois anos por um incêndio provocado por vândalos Pedro Cunha

Ninguém sabe se a árvore, que está classificada desde 1940, irá sobreviver. "Se conseguir fazer um novo lançamento de folhas no Outono, é provável que sim", diz a coordenadora do Laboratório de Patologia Vegetal Veríssimo de Almeida, Filomena Frazão Caetano, admitindo, no entanto, que o estado do cipreste é preocupante. Desde 1996 que esta instituição ajuda a Câmara de Lisboa a cuidar do seu património vegetal. Os especialistas da Autoridade Florestal Nacional também não se mostram optimistas. "Fez-se tudo o que foi possível, mas não se podem pedir milagres. Tal como os idosos, a árvore começa a revelar problemas de saúde próprios da idade", observa o vice-presidente deste organismo, João Soveral, ressalvando: "Não quer dizer que vá morrer".

Muito menos frondosa do que já foi, a copa deste cipreste-do-buçaco a que toda a gente se habituou a chamar cedro mede mais de 26 metros de diâmetro, enquanto o seu tronco alcança um perímetro de quatro metros. Apesar de se ter tornado famoso pela sua antiguidade e dimensões, o cipreste nem sequer é o maior do país, faz notar Filomena Frazão Caetano: "Existe um ainda maior em Runa, no concelho de Torres Vedras. Tem 134 anos e a copa mede 28 metros".

Os técnicos atribuem a debilidade do exemplar do Príncipe Real sobretudo a um grande incêndio de que foi vítima há já mais de dois anos. "Não obstante todos os esforços para a sua conservação, a árvore tem sido alvo de actos de vandalismo que estão a pôr em perigo a sua sobrevivência, o último dos quais foi o lançamento de materiais incandescentes para o interior do seu tronco", que há muito é oco, descreve um relatório da Autoridade Florestal Nacional datado de meados deste mês.

O documento foi produzido em resposta ao movimento cívico Fórum Cidadania, que julgava que o declínio do Cupressus lusitanica Miller (o nome científico do cedro) se pudesse ficar a dever às obras que tiveram lugar no jardim há dois anos. Este organismo garante que não, e diz que o fogo terá afectado a zona de inserção das raízes. "Em consequência do enfraquecimento generalizado, devido ao incêndio, a árvore sofreu forte ataque de um afídio [os chamados piolhos das plantas, ou pulgões], insecto que está a causar o amarelecimento e seca dos raminhos de partes da copa", descreve o relatório.

Os técnicos já procederam a uma lavagem da copa, que está assente numa estrutura de ferro, libertando-a de parte dos invasores e também dos ramos mortos. "Tendo em conta a idade da árvore e os sintomas exteriores de enfraquecimento, as raízes poderão já não ter capacidade para levarem os nutrientes a todas as partes da copa", explica ainda a Autoridade Florestal.

Vários dos frequentadores do jardim têm a sensação de que o cipreste nunca foi acarinhado como merecia - apesar de o Laboratório de Patologia Vegetal garantir que tem sido alvo de "minuciosas e dispendiosas intervenções de manutenção" por parte da Câmara de Lisboa, com vista à sua preservação. "Tem tido falta de atenção, não lhe têm dado o tratamento adequado", observa o dono de um dos quiosques do Príncipe Real. "Não lhe têm prestado a atenção que merece", corrobora o proprietário de outro quiosque.

A coordenadora do Laboratório de Patologia Vegetal admite que a erradicação dos piolhos podia ter sido feita mais cedo: "As elevadas temperaturas de Fevereiro passado fizeram com que o insecto começasse a produzir estragos mais cedo do que o habitual, e que se tivesse descurado o tratamento" atempado. "Mete medo pensar que o cedro poderá vir a morrer", diz, desgostosa, uma italiana que mora perto do jardim, Marzia Grassi. Talvez ainda não seja desta: "O facto de ter folhas novas nesta Primavera é um bom sinal", observa Filomena Frazão Caetano.

O PÚBLICO tentou obter esclarecimentos da câmara sobre o problema, mas sem sucesso

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