Laurie Anderson inicia, no Centro Cultural Vila Flôr, em Guimarães, nesta terça-feira, a digressão europeia de “Dirtday”, o seu novo espectáculo. Música, artista multimédia ou performer, a americana regressa a Portugal para olhar a América, e o mundo, ao microscópio, como é habitual nela desde o início dos anos de 1980.
Será um espectáculo multimédia para voz, projecção de imagens e música, que propõe uma narrativa diferente para o nosso mundo, através da palavra. “Os políticos são essencialmente contadores de histórias” diz ela. “Eles descrevem o mundo como ele é e também como eles acham que deve ser. Como uma parceira contadora de histórias parece-me boa altura para pensar como as palavras podem literalmente criar o mundo.”
Depois de Guimarães, o espectáculo vai passar pelo teatro Gil Vicente de Coimbra (quarta-feira), pelo teatro Aveirense em Aveiro (quinta-feira), pelo cineteatro de Torres Vedras (sexta-feira) e pelo teatro Virgínia de Torres Novas (sábado). “Homeland”, de 2010, é o seu último álbum de originais, e é de esperar que alguns dos temas desse disco sejam recriados em palco. O tema que domina esse disco é “Another day in America”, longa reflexão de mais de 11 minutos, de climas sombrios, orquestrações dissonantes e voz robotizada.
Aliás, do ponto de vista sonoro esse era um álbum de ambientes electrónicos expansivos, envolvimentos de violino e aquela forma misteriosa e particular de dizer as palavras, entre o falado e o cantado.
Os seus espectáculos têm sempre qualquer coisa de encantatório, misto de concerto-poema, narração de histórias e criação audiovisual. Tem sido quase sempre assim, desde a alvorada dos anos 80 quando lançou o excelente álbum de estreia, “Big Science” (1982). Nesse disco interrogava a sociedade de consumo e as reacções pré-computador aos desenvolvimentos tecnológicos.
Nada nessa obra era regido pelos valores vigentes da acessibilidade pop, mas temas como “O superman” ou “Big science” haveriam de transformar-se em sucessos de massas. Talvez seja difícil de perceber esse êxito se tivermos em atenção que nessa época, como hoje, nunca desistiu de experimentar. Mas verdade seja dita também nunca desistiu de nos interpelar de forma afectiva, tocante, humana.