"Arena" (2009) é o momento olímpico de João Salaviza. Por causa da Palma de Ouro de Cannes, claro; por causa daquela entrega à luz (magnífico final distópico) de um jovem que fura as regras da prisão domiciliária para ser devorado pelo exterior. O que acontece depois na obra do realizador - e poderemos ver "Arena", "Cerro Negro" (2011) e "Rafa" (2012) juntos, serão brevemente editados em DVD - não é da ordem da superação, mas da reiteração. Como se este cinema fosse, primeiro, alimentando a curiosidade e o fascínio de um filho da classe média (como Salaviza se assume) pelo “outro”, por um mundo a que nunca pertenceu, por uma relação com a rua que (se) perdeu (tudo isso tintado de nostalgia, no sentido em que podemos ficar nostálgicos em relação ao que nunca tivemos.) Depois, acordando para uma consciência, enchendo-se de gravidade e de suplementos de angústia (no sentido em que é angustiante, por exemplo, o cinema iraniano, Abbas Kiarostami e os outros, com/sobre crianças). Só a visão conjunta desta espécie de trilogia da angústia instala a dinâmica de implacabilidade que está em movimento na viagem iniciática de personagens que são apresentadas ao mundo exterior para aí se confrontarem com outros horizontes de fechamento: em Rafa, o Urso de Ouro de Berlim que é exibido em complemento a Nana, um adolescente vai do subúrbio a Lisboa visitar a mãe à prisão. Descobre-se, afinal, adulto.
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