Pelo meio do absurdo de estreias que semanalmente são despejadas sem rei nem roque nas nossas salas, ainda há espaço para surpresas desamparadas como a segunda longa do inglês Ben Wheatley, que pega nas regras do filme de género e as subverte e distorce inquietantemente através da introdução, por um lado, de um realismo social tipicamente inglês, e por outro de um surrealismo mutante e atmosférico que recusa qualquer explicação racional. A história de dois ex-militares reconvertidos em assassinos contratados cuja nova missão parece atirá-los para o meio de uma conspiração que está sempre um passo à frente evoca o mítico “Wicker Man” (1973) de Robin Hardy, mas é resolutamente contemporânea no modo como atira para o meio de uma trama policial convencional referências paranóicas e angustiantes e se abandona sem pedir desculpa a uma exploração animal e primitiva do medo e da insegurança. “Uma Lista a Abater” é um dos melhores e mais inteligentes exercícios de género que vemos em muito tempo - e manda a verdade que se avise o leitor mais distraído que este filme não se esquece logo assim que se sai da sala.
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