Jaime Graça, o sexto elemento de luxo do Benfica
Aos 5 Violinos do Sporting nos anos 1940-50, o Benfica respondeu com o quinteto Coluna, José Augusto, Eusébio, Torres e Simões nas duas décadas seguintes. Injustamente de fora da fama desta plêiade de jogadores que marcou o futebol nacional e europeu nos anos 60-70 está Jaime Graça, o sexto elemento de luxo do Benfica que varreu o futebol português, quer de águia ao peito ou na selecção. Graça, que se encontrava doente há algum tempo, morreu ontem, aos 70 anos.
A sua despedida é sentida no V. Setúbal e no Benfica, os dois clubes que contaram com o seu contributo enquanto futebolista. Jaime Graça nasceu a 10 de Janeiro de 1942, dez dias antes de Eusébio, destacou-se no Vitória com 17 anos e foi convocado para representar Portugal no Mundial de 1966. Antes, foi um dos responsáveis pela subida à I Divisão em 1962 e pelo triunfo na Taça de Portugal em 1965 sobre o Benfica (3-1). Mas foi o telefonema que recebeu da mulher com a notícia de que ia para o Benfica que mudou a sua vida.
Assim, deixou de defrontar Eusébio. "Foi um alívio", contou numa entrevista ao jornal i em Dezembro. "Fomos à final da Taça mas perdemos 3-0. Do outro lado, estava o Eusébio. Assim era complicado. Marcou-nos dois golos, o primeiro e o último", recordou. "Com ele na minha equipa foi tudo mais fácil. Fui campeão sete vezes em nove anos. Só perdi dois campeonatos para o Sporting".
No Benfica, participou em 159 encontros e marcou 19 golos entre 1966 e 1975. António Simões chama-o de revolucionário. "Era um número 8 fantástico", contou ao PÚBLICO. "Foi o primeiro jogador na história do futebol português a fazer aquilo a que agora se chama box-to-box". Com Simões, Graça formou umas das duplas que liderou o Benfica de Jimmy Hagan a mandar no futebol em Portugal, inclusive alcançando um título sem derrotas em 1973, inédito até ao FC Porto do ano passado com Villas-Boas.
"Era o mais inteligente a fazer tudo e foi o meu braço direito ao longo de muitos anos", diz Simões, lembrando que eram os dois a dar a táctica no tempo de Hagan. Graça também se recordava desses tempos. "Muitas vezes, eu e o Simões, como capitães do Benfica, mudávamos completamente aquilo logo na primeira parte", atirou, queixando-se do desacerto do treinador inglês nos maus resultados nas competições europeias. "Na Europa, nem sempre fomos mais longe por causa do desacerto táctico do Hagan". Uma dor que José Augusto também partilha. "Fizemos finais europeias que não ganhámos", diz, sem esquecer o companheiro, um futebolista de "fino recorte técnico".
A ausência de um troféu europeu é uma ferida na carreira de Jaime Graça, um jogador fabuloso que se conseguiu impor num Benfica que tinha uma das melhores equipas da Europa. "Veio juntar-se ao talento e à arte já existentes, mas mesmo assim veio acrescentar algo", diz Simões. "Não era fácil chegar e imediatamente ser titular e ele foi...". Foi ele a marcar o golo na final da Taça dos Campeões em 1968, mas o Benfica perderia no prolongamento por 4-1.
Graça também foi importante fora do campo. Salvou a sua vida e a de outros dois companheiros (Eusébio e Malta da Silva) ao desligar o quadro de electricidade, depois de um curto-circuito durante uma sessão de hidromassagem ter tirado a vida a Luciano. Valeu-lhe, na altura, o emprego de aprendiz como electricista quando tinha 10 anos.
A carreira em números6
foram as épocas em que representou o Vitória de Setúbal (1960-66 e 1975-77) e durante as quais ajudou os sadinos a subir à I Divisão e a conquistar uma Taça de Portugal... ao Benfica.
9foram as temporadas que passou no Benfica (1966-75). Aí, venceu 7 campeonatos, 3 Taças de Portugal e 3 Taças de Honra de Lisboa.
159O número de jogos em que participou com a camisola do Benfica, marcando 19 golos.