“O grito”, do pintor norueguês Edvard Munch, é uma das mais importantes obras da modernidade. No quadro pintado a pastel, uma pessoa com um ar desesperado está com as mãos agarradas à cara, enquanto atravessa uma ponte com duas figuras ao fundo, e um horizonte com cores garridas.
Munch, que nasceu em 1863 na Noruega, pintou ao longo de décadas quatro versões de “O grito”. Três delas estão em museus na Noruega, enquanto a quarta estava nas mãos de Petter Olsen, um empresário norueguês cujo pai foi amigo e patrono de Munch, e adquiriu inúmeros quadros ao artista. A obra vai ser vendida em Nova Iorque pela casa de leilões Sotheby’s.
“‘O grito’ de Munch é uma imagem definidora da modernidade, e é um imenso privilégio para a Sotheby’s ser encarregada de vender um dos trabalhos de arte mais importantes que está na mão de privados”, disse Simon Shaw, responsável pelo departamento de impressionismo e arte moderna da Sotheby’s.
Para Shaw, o quadro “é instantaneamente reconhecível, é uma das poucas imagens que transcende a história da arte e alcança a consciência global. Sem dúvida, que hoje ‘O grito’ encarna mais poder do que quando foi concebido.”
“Numa altura em que há um grande interesse crítico pelo artista, e com os 150 anos do seu nascimento em 2013, esta Primavera é uma altura particularmente atraente para ‘O grito’ aparecer no mercado. Para os coleccionadores e para as instituições, a oportunidade de adquirir uma obra-prima com uma influência tão singular não tem precedentes nos últimos tempos”, disse, citado pelo The Guardian.
Nesta versão que vai à venda, de 1895, as cores são mais fortes do que nas outras três versões, adianta Shaw. E é a única em que a moldura foi pintada pelo artista com o poema que descreve uma caminhada ao pôr-do-sol que inspirou a pintura. Outra particularidade única desta versão é que uma das figuras que está em segundo plano olha para baixo, para a cidade.
“‘O grito’ é único”, disse Shaw, numa conversa com New York Times. “Todos conhecem-no, mas paradoxalmente poucas pessoas realmente viram o quadro. Quando se está à frente dele, é bastante assustador. Tem o poder de chocar.”
O responsável acredita que esta versão só foi vista anteriormente nos Estados Unidos, em Washington, no início da década de 1980. Antes de ser leiloado, o quadro vai estar em exposição em Londres.
Segundo o actual dono do quadro, o que for arrecadado da venda irá para a construção de um novo museu, centro de arte e hotel na quinta Petter Olsen, que fica em Hvitsten, na Noruega. O museu “vai abrir no próximo ano fazendo ligação com o 150º aniversário de Munch, e vai ser dedicado ao trabalho e ao tempo em que o artista esteve ali.”
Olsen convive com o quadro desde sempre. “Vivi toda a minha vida com este trabalho, e o seu poder e energia só tem aumentado ao longo do tempo. Sinto que é o momento para oferecer ao resto do mundo uma hipótese de ter e apreciar este incrível trabalho, que é a única versão de ‘O grito’ que não está numa colecção de um museu da Noruega”, disse. “Como ambientalista, estou preocupado com a relação do homem com a natureza e sinto que ‘O grito’ faz uma importante afirmação sobre este assunto.”
De acordo com vendas recentes de obras de arte, Simon Shaw estima que o quadro possa chegar aos 80 milhões de euros. A obra que detém o recorde de vendas é o quadro de Picasso ‘Nude, Green Leaves and Bust’, que em Maio de 2010 foi leiloado por 106 milhões de dólares, cerca de 80 milhões de euros.