As sanções vistas no bazar e na urna de voto

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As próximas eleições serão um confronto entre facções conservadoras Caren Firou/Reuters

Este é um cenário de pesadelo para o regime do Irão, onde ainda antes da aprovação da sanção das sanções, o embargo ao petróleo, as medidas postas já em prática, especialmente pelos EUA, fazem já sentir fortemente os seus efeitos. E onde se preparam eleições parlamentares, as primeiras a nível nacional desde as presidenciais de 2009.

As sanções afectam, claro, o iraniano comum mais do que a liderança. Um dos locais onde o efeito é especialmente visível é nas casas de câmbio, onde todos os dias há grupos de iranianos a olhar para os ecrãs que mostram a desvalorização, quase horária, do rial face ao dólar, conta Hooman Majd, jornalista e escritor irano-americano que passou grande parte do ano passado no Irão, numa conversa por e-mail, ao PÚBLICO. Só na primeira semana do ano, o rial desvalorizou 20%, apesar de o Banco Central iraniano continuar a injectar dólares no mercado. Na semana passada, tinha chegado ao nível mais baixo de sempre.

Mas as sanções têm tido outros efeitos. A inflação é galopante: os preços aumentam todos os dias. Um quilo de carne custa 20 dólares, um preço demasiado alto para a maioria das famílias. Pastas ou escovas de dentes que numa semana apareciam nas prateleiras dos supermercados de repente deixam de aparecer.

Os bens importados, sobretudo, viram subir especialmente os preços por causa da recusa de muitos bancos em lidar com o banco central iraniano.

A falta de investimento no país leva a que fábricas encerrem e o desemprego aumente. “E para além disso tudo, coisas simples como as sanções afectem peças de aviões e isso quer dizer que os iranianos têm de viajar em aviões cada vez mais velhos com problemas de segurança”, nota Hooman Majd. “As sanções afectam pessoas a todos os níveis”, conclui.

A par disso, as afirmações sobre acções militares começam a ganhar um ar sério vistas de Teerão, nota o autor. “Antes era referida como quase uma brincadeira. Mas nos últimos meses, como dizia o meu oculista, ‘cheira a guerra’”, descreve.

Ainda que, sublinha o escritor, “os iranianos tenham dificuldade em perceber o que querem os países com estas sanções”. E mesmo que se queixem da corrupção das autoridades, a maior parte das pessoas acha que a culpa do mau estado da economia é sobretudo dos Estados Unidos.

Aliados de Ahmadinejad e a feitiçaria

Neste quadro, as eleições para o Parlamento (Majlis), que se realizam em Março, vão ser sobretudo sobre questões de economia, diz Anoush Ehteshami, professor da universidade britânica de Durham e co-autor do livro Iran and the rise of its neoconservatives, numa entrevista telefónica com o PÚBLICO. Mas sob essa capa, há uma real luta entre duas facções conservadoras, a leal ao Presidente, Mahmoud Ahmadinejad, e outra que se lhe opõe. O Presidente desafiou o Supremo Líder demitindo um ministro (que Khamenei rapidamente recolocou no cargo) e nos últimos meses vários aliados de Ahamdinejad têm sido detidos pelos mais variados motivos, incluindo “feitiçarias”, por seguirem uma “corrente desviante” da religião.

“Vai ser um teste para se ver o equilíbrio de poder dentro das forças conservadoras”, e um indicador para as presidenciais previstas para 2013, nota Anoush Ehteshami.

Ainda que a abstenção seja geralmente baixa no Irão (Ehteshami nota que quem não vota não recebe um carimbo no documento de identidade o que pode levar a que não receba subsídios ou ajuda alimentar, por exemplo), as eleições serão uma medida da legitimidade do regime, que descreveu a votação como “as eleições mais delicadas da história da Republica Islâmica” (palavras de Heydar Moshlehi, ministro da Informação, citado pelo Guardian).

São as primeiras eleições nacionais desde 2009, quando a reeleição de Ahmadinejad levou à maior onda de protestos no país desde 1979. No entanto, os protestos foram brutalmente reprimidos e quase não haverá candidatos reformistas nestas eleições. “O regime está preocupado que as eleições não pareçam legítimas”, disse Alireza Nader, do grupo de análise de risco RAND Corporation, ao New York Times.

As sanções, pelo seu lado, entraram na campanha apenas para sublinhar a grandeza do país, sublinha Anoush Ehteshami. “Vejam quão grandes somos apesar das sanções” é a narrativa do regime, diz o professor.

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