PJ recolheu várias pistas sobre “Estripador de Lisboa” em 1993

A PJ recolheu em 1993, ao investigar a morte de uma das três prostitutas vítimas do “Estripador de Lisboa”, um filtro de cigarro (saliva), cabelos e pelos púbicos, mas oficialmente ainda não confirmou se dispõe do ADN do autor dos homicídios.

O caso voltou a ganhar actualidade depois de na edição desta sexta-feira o semanário “Sol” garantir que descobriu, em Matosinhos, José Guedes, desempregado, que reclama ser o “Estripador de Lisboa”, além de reclamar outros crimes na Alemanha e em Aveiro.

Os autos do inquérito já arquivado (os crimes prescreveram), a que a Agência Lusa teve acesso, referem que no caso do homicídio de Maria João, prostituta de 27 anos, toxicodependente, esventrada no pátio traseiro de um armazém na Póvoa de Santo Adrião, Odivelas, foram recolhidos um envelope contendo pelos púbicos, outro contendo cabelos, um saco de plástico contendo um filtro de cigarro, entre outros vestígios.

Durante as investigações à morte de três prostitutas entre Julho de 1992 e Março de 1993, os investigadores da PJ recolheram ainda uma impressão palmar que ficou numa parede que ficou ensanguentada, mas também aqui permanece a dúvida se tal pista permitiria a eliminação ou a confirmação de um suspeito por comparação.

Apesar de ter sido encontrado um “filtro de cigarro na cavidade abdominal” de uma das vítimas, bem como “cabelos na ferida abdominal”, fontes ligadas à PJ não quiseram adiantar se esta polícia científica dispõe do ADN do “Estripador de Lisboa”.

Embora este tipo de exames seja feito em Inglaterra desde 1986, a PJ só começou a dispor desta tecnologia na segunda metade dos anos 90, tendo na altura o Laboratório de Polícia Científica da PJ recebido a visita do então ministro da Justiça, Vera Jardim.

Como os crimes do “Estripador de Lisboa” estão prescritos, fontes policiais contactadas pela Lusa excluem a possibilidade de reabertura de qualquer investigação com efeitos “sancionatórios”, mas admitem que quando a “poeira” se dissipar o caso poderá vir a ser esclarecido.

Durante a investigação até ao caso prescrever, a PJ inquiriu várias testemunhas, ouviu diversos peritos e indagou outras prostitutas e chegou a ter, com base nisso e em denúncias, suspeitos de quadrantes diversos.

Um dos suspeitos chegou a ser um estudante de Medicina (hoje médico), que trabalhou no Instituto Nacional de Medicina Legal (INML), que se apoderava de órgãos que extraía dos cadáveres e cujo “comportamento era fora do comum”.

O dito estudante ausentou-se para a Austrália e a PJ chegou a realizar intercepções telefónicas das suas conversas com a mãe, mas das escutas nada resultou de substancial.

Através do relato de outras prostitutas sobre clientes com comportamentos bizarros - porque usavam máscaras, capachinho, outro disfarce ou eram violentos - surgiram outros suspeitos, tendo a PJ chegado a elaborar “retratos-robot” de suspeitos.

Um deles teria entre 30 e 40 anos, 1,75 metros de altura e cabelo preto, enquanto outro teria até 35 anos, 1,70 a 1,75 metros de altura, magro, de bigode e olhos escuros.

Um perito em psiquiatria forense chegou a admitir, como consta dos autos, que o “Estripador de Lisboa” poderia muito bem ser um “homossexual não assumido com problemas de impotência” que reagiria com “violência” a um “comentário mais jocoso da prostituta”.

As autoridades judiciárias também receberam uma carta de um português emigrado na Alemanha, de seu nome Aquilino Domingues João, a assegurar que sabia quem “era o estripador que andava a matar as raparigas da estrada”.

Os investigadores trocaram ainda correspondência com a Interpol e receberam a ficha de criminosos belgas e de outras nacionalidades que eventualmente pudessem ter passado por Portugal.

Foi também traçado um perfil do “Estripador de Lisboa” e dos vários tipos de “serial killer” - “visionário”, “poder/controlo” e “hedonista”.

A polícia inclinou-se para a hipótese deste ser do “tipo hedonista”, em que o ato de morte é visto como um acto erotizado, com a escolha das vítimas a recair sobre pessoas “vulneráveis”, o intervalo entre as mortes (arrefecimento emocional) a encurtar-se progressivamente e a mostrar-se “geograficamente estável” na prática dos crimes.