Simplesmente Made Out Portugal

São portugueses, mas não estão por cá. São designers, mas não estão parados. "É uma estrutura muito simples e muito orgânica que se adapta às circunstâncias"

Dock Lamp, de Manuel Amaral Netto DR
Fotogaleria
Dock Lamp, de Manuel Amaral Netto DR
Nelson Garrido
Fotogaleria
Nelson Garrido

“Se és um designer português a viver no estrangeiro e estás interessado em participar nas próximas exposições, envia-nos os teus projectos”. O convite está escrito a vermelho e verde no site Made Out Portugal, uma plataforma cujo conceito é esse mesmo.

“Não é uma marca”, explicou ao P3 Bruno Carvalho, coordenador de um projecto que nasceu em Den Bosch, na Holanda, no momento em que alguns jovens designers portugueses levantaram a cabeça e perceberam que tinham “acesso a uma outra dimensão”.

2007. O estágio de Bruno durava seis meses. “Ia voltar”. Mas arregalou os olhos perante os “ateliers de design de produto que empregam pessoas” e as “plataformas de diferentes escolas com diferentes mercados”. “Tudo com ambição internacional desde o princípio dos projectos”, recorda.

Bilhete de ida e volta? Não

A estadia prolongou-se. E, como que decalcados a papel químico, surgiram outros casos: designers, portugueses, empreendedores. Bilhete de ida e volta? “Se repetirmos a pergunta, todos vão dizer que querem regressar, mas há muita gente na Europa que, por um motivo ou por outro, não vai regressar tão cedo a Portugal. A Holanda está no centro da Europa e está também no centro do design”.

A plataforma Made Out Portugal é isso, “um percurso de vida intenso, um processo de aprendizagem”. “Não temos uma organização definida e sólida. É uma estrutura muito simples e muito orgânica que se adapta às circunstâncias. Não temos qualquer tipo de apoio financeiro ou de marcas. É super flexível. Torna-se importante neste momento em que tudo é imprevisível. Resulta bem assim”.

Os membros do Made Out Portugal estão espalhados pelo mundo. São todos autores e todos produzem as suas peças — trabalhos conceptuais em termos de exploração de formas e tipologias. São independentes quase sempre e um colectivo quando resolvem unir forças (Experimenta Design, Berlim, Eindhoven, "you name it"). “Vamos avançando. Entre nós conseguimos ser totalmente independentes, resolver problemas e tornar a coisa real”.

A palavra “emigrar” já não existe

Bruno Carvalho (Lisboa, 1975) está constantemente em trânsito, mochila às costas. É contra a palavra “emigrar”. “Já não existe”, afirma. Está a duas horas e meia do Porto “por cinquenta euros ou menos”.

Fixou-se num país onde existe um sistema "low-cost" de arrendamento de espaços alternativos, maquinaria em segunda mão, alguns apoios e grandes montras. “Uma coisa é estar em Portugal, outra é conviver na Dutch Design Week onde convivemos com algumas das mais cotadas escolas de design do mundo. E nós estamos ao lado deles. Há miúdos que acabam o bacharelato e no ano seguinte estão na feira de Milão. Temos que ser bons também. Temos que puxar uns pelos outros”.

Mas não tem medo de voltar. 1 — “Em Portugal, aos poucos, começa a haver um acesso mais facilitado à indústria” 2 — “Há uma nova geração que começa a aparecer em Portugal, aqui e acolá”. 3 — “É preciso atingir padrões de qualidade para desenvolver peças que se aguentem no mercado. E não pensar apenas no mercado português”.

Sugerir correcção
Comentar