Somos dos que contestam a suposta descaracterização de Cronenberg. “Uma História de Violência” e “Promessas Perigosas” são cronenberguianos até à medula, apenas desprovidos de sinais exteriores de “cronenberguianismo” - filmes silenciosos e interiores, na exacta medida em que também o “cronenberguianismo” se foi tornando um conflito interiorizado, mental. Que a sequência venha em torno de Freud e Jung até faz, portanto, pleno sentido. Admitimos em “Um Método Perigoso” uma certa convencionalidade no plano da factura, ditada talvez por um excesso de ironia e de “distância”; mas por outro lado, se alguma pena temos é que Cronenberg não tenha levado a sua promessa “screwball” (na relação entre o cínico Freud e o idealista Jung, mas também na relação de Jung com as mulheres) até às últimas consequências. Ainda assim, não há muito a lamentar: é um filme rigoroso, denso, e capaz de uma irrisão devastadora sobre o sentimento de superioridade do homem culto e civilizado do princípio do século XX, o homem que, como na derradeira cena, só em sonhos pode conceber (sem compreender) uma coisa como a I Guerra Mundial.
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