Liberianos votam e vão dizer se concordam com comité que deu Nobel a Presidente Sirleaf

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Apoiante de Ellen Johnson Sirleaf num comício em Monrovia Foto: Luc Gnago/Reuters

Se o mundo fosse votar, Ellen Johnson Sirleaf, laureada na semana passada com o Prémio Nobel da Paz, ganharia muito provavelmente as eleições em que hoje procura um segundo mandato presidencial na Libéria. O que 1,8 milhões de eleitores vão dizer nas urnas - quatro dias depois - é se essa é, ou não, também a sua opinião.

As segundas eleições desde o fim de uma guerra civil de 14 anos que se prolongou até 2003, e provocou a morte de cerca de 250 mil pessoas, são um barómetro do estado do país. Mas as presidenciais, legislativas e senatoriais de hoje, consideradas essenciais para a consolidação da paz, ficam também marcadas pela decisão do comité Nobel.

A decisão caiu mal na oposição e alimentou a polémica interna. "Não é merecido. É uma interferência na política do país", disse, citado pelo jornal britânico Guardian, Winston Tubman, sobrinho do antigo Presidente William Tubman e ex-diplomata das Nações Unidas, tido como o principal adversário de Sirleaf. "Internacionalmente, as pessoas olham e dizem. "Olha, uma premiada com o Nobel". Mas na Libéria isso não tem influência", afirmou à Reuters o candidato do CDC, Congresso para a Mudança Democrática. Analistas ouvidos pela Reuters são também de opinião que a atribuição do Nobel é um sinal de apoio externo de apoio à actual Presidente, que enfrenta 15 concorrentes.

Sirleaf, de 72 anos, ganhou prestígio por ter sido, em 2005, a primeira mulher eleita chefe de Estado em África, ao derrotar por 59,4% contra 40,6% George Weah, antigo futebolista do AC Milan e do Chelsea, que agora corre para vice-presidente de Tubman.

A estabilidade dos últimos anos, o perdão de cinco mil milhões de dólares de dívida em três anos e o regresso do investimento externo são créditos que a Presidente pode reclamar. Mas os opositores criticam a lentidão do processo de reconstrução, o desemprego que atinge 80 por cento dos liberianos, a elevada criminalidade e a corrupção governamental - factores que tornam uma eventual reeleição mais difícil do que se poderia esperar. "Em seis anos, não se pode reconstruir um país devastado", onde "as infra-estruturas estavam destruídas, não havia lei [...] fizemos muitos progressos", respondeu no domingo, em declarações à AFP.

Antiga economista do Citigroup e do Banco Mundial, Ellen Johnson Sirleaf, que concorre pelo Partido da Unidade, tem o apoio de Leymah Gbowee, a pacifista liberiana galardoada também na sexta-feira com o Nobel da Paz - a outra distinguida foi a jornalista iemenita Tawakkul Karman. No seu passado, tem uma nódoa explorada por opositores, que não a impediu de ganhar há seis anos nem de ser premiada pela Academia sueca: ter apoiado, no início dos anos 1990, Charles Taylor, um "senhor da guerra" que está ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade. A Presidente confirma que ajudou Taylor com mantimentos e dinheiro numa fase inicial da luta para o afastamento do autoritário Presidente Samuel Doe, mas que depois lhe retirou o apoio.

"Se Sirleaf vencer, não será uma vitória fácil. Não pode ser afastada a hipótese de violência, especialmente tendo em conta o tom da campanha nas últimas semanas e queixas de partidos da oposição de lhes ser negado o acesso a apoio público", alertou Titi Ajayi, analista do International Crisis Group citada pela Reuters.

A campanha eleitoral de mais de três meses foi globalmente pacífica, mas a memória da guerra está bem viva e há quem lembre que as eleições de 2005 foram marcadas por distúrbios na capital, Monróvia. O efectivo de 8000 homens da Missão das Nações Unidas na Libéria está alerta.

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