Alessio Rastani, um corretor maquiavélico e apocalíptico ou um "Yes Man"?
A dada altura, nos três minutos e meio da emissão da BBC News de segunda-feira que o Youtube permite ver, Rastani afirma que tem uma confissão a fazer em directo: “Quando vou para a cama, sonho com uma nova recessão, com um outro momento como este”. A sua profissão é encontrar oportunidades para fazer dinheiro, relembra à pivot que o interpela.
Outro soundbyte ressoa na entrevista: “Os governos não mandam no mundo. Quem governa o mundo é a Goldman Sachs”. O corretor referia-se ao principal banco de investimento dos Estados Unidos, conselheiro financeiro de alguns governos, empresas e famílias endinheiradas, e onde são recrutados presidentes de empresas e membros do Governo norte-americano.
Em vários momentos do discurso, o tom de Rastani é apocalíptico: “A crise é como um cancro. Se as pessoas esperam e esperam para passar, será tarde demais”. O polémico corretor considera ainda que o problema das dívidas soberanas na Europa não pode ser resolvido, e antevê um “crash” absoluto da Zona Euro, porque “os mercados estão a ser regidos pelo medo”. A maioria dos corretores, entre os quais ele próprio, admite, não está preocupada em "reparar a economia”.
Um dia após estas declarações, a BBC News publicou um comunicado em que confirma que Rastani “é um corretor independente e uma numa série de vozes que tivemos no ar para falar sobre a recessão”. O comunicado do gabinete de imprensa do canal britânico refere ainda que foram efectuadas investigações no sentido de apurar se a entrevista com Alessio Rastani tinha sido um logro. “Não conseguimos encontrar qualquer evidência que sugira [essa possibilidade]”.
Mas, afinal, quem é Alessio Rastani? Um anónimo corretor independente que, depois de três minutos e meio de antena, passou a ser visto como a personificação de um profissional geralmente invisível? Por que decidiu a Forbes entrevistá-lo na sequência dos depoimentos à BBC, que deixaram com ar de incrédula a interlocutora?
Até ver, são mais as perguntas do que as respostas. O site Sabotage Times chega ao ponto de questionar se “o discurso de Alessio Rastani sobre a Goldman Sachs foi outro logro da autoria dos 'Yes Men' [um grupo de activistas-humoristas que recorre aos media para fazer aumentar no público a consciência sobre questões sociais que considera problemáticas]”. A resposta é especulativa: “Não tem havido de longe uma prova concreta, mas a julgar por algumas das suas outras palhaçadas, não ficaríamos surpreendidos”.
Na entrevista à Forbes publicada nesta terça-feira, Rastani começa por dizer o que não é: “Não sou um corretor institucional. Jamais sonharia fazer isso”. Corrige aliás a notícia da Forbes que dava conta de que era corretor de Wall Street.
Na entrevista, não há referências biográficas que apontem para empregos anteriores e as respostas sobre o percurso profissional são vagas. Rastani diz que é corretor por conta própria desde 2006. E qual o perfil deste corretor? “Sou uma pessoa muito adversa ao risco. Nunca me envolvi numa situação que nunca tenha analisado inteiramente. Gosto da volatilidade”.
De acordo com
a sua página do Facebook, é “um corretor da bolsa e um orador profissional” que teve o “privilégio de aprender com os mais maravilhosos corretores do mundo”, aqueles que, como ele, preferem a independência.
, afirma que “sempre adorou ensinar”. Num
postpublicado ontem, intitulado
Recessão Global – Por quê é que eu rezo por outra recessão, desenvolve alguns dos tópicos evocados na entrevista, como por exemplo os contornos da grande depressão nos Estados Unidos.
“Oiçam, porque o que vou dizer poderá chocar-vos. A maioria das pessoas apenas se lembra da depressão dos anos 1930 por uma coisa: o crash da bolsa. Adivinhem porquê. O que não é conhecido ou ensinado geralmente é que a depressão tornou algumas pessoas milionárias. Houve mais milionários a serem 'produzidos' nos anos 30 do que noutro qualquer período da História”.
As lições dadas no blogue, por vezes elementares, têm chocado os detractores pela abertura com que o corretor fala de um universo que move milhões, pouco conhecido . “A recessão ocorre durante um clima económico instável. Quando os mercados se tornam instáveis (…), criam volatilidade. Um mercado volátil cria frequentemente novas tendências de mercados”. Rastani cita ainda W.D. Gann, que diz que o "grande capital" (big money) é obtido nas "grandes tendências”, para reforçar a ideia de oportunidade que as crises propiciam.
Na Internet não tardaram os aplausos e a indignação perante as declarações do corretor. No Facebook, foram criados vários grupos, entre os quais “Pela entrega de Alessio Rastani aos talibã” e “Alessio Rastani é Satã”. Na informação pessoal deste último perfil, os fundadores da página escreveram “Vender, vender, vender. Sou um corretor que adora fazer dinheiro com a desgraça dos outros”.
Também nesta última plataforma, há mensagens para todos os gostos. Há quem lhe chame “abutre”, há quem lhe agradeça as palavras na televisão. Uma das questões colocadas por um dos criadores do grupo, que tem como avatar uma fotografia de Rastani: "Quem ganharia numa luta? Eu ou Jesus?”. Um subscritor da página responde: “Não estou certo de que não sejas Jesus”. “Este grupo mostra a completa falta de pensamento lateral e a mentalidade de rebanho. Este tipo expõe a verdade e é chamado de Satã. Pobre espectáculo!”, escreve um utilizador.
“Rastani está apenas a proceder como qualquer outro corretor, com a excepção de ter falado honestamente na televisão”. Eis uma frase nesta página da rede social que poderá explicar a origem da polémica. E que poderá responder às interrogações “Por que é que a Forbes entrevistou Alessio Rastini?” ou "Quem é este corretor?".
Notícia corrigida às 13h15 de 28 de Setembro