Retrospectiva do pintor John Martin resgata quadro “perdido” em cheias
Martin Myrone, curador da exposição, começa por apresentar à Reuters a exposição cronológica com a defesa de John Martin, o autor de uma vasta obra que começou a ser vista pelo grande público em 1922 e que vai estar patente na Tate Britain até 15 de Janeiro. “As imagens dele tocaram as vidas de milhares de pessoas comuns na Grã-Bretanha e em todo o mundo, mas a reputação sofreu de incompreensão e da sobranceria do mundo da arte”, lembrou Myrone, em resposta aos detractores do artista britânico. John Ruskin, crítico de arte da era vitoriana, escreveu um dia que os trabalhos de Martin eram “manufactura vulgar”, comparando-a a uma bandeja de chá encomendada.
O curador de “John Martin: Apocalypse” admite que o pintor romântico foi “um passeio de montanha russa no que toca à reputação”. No século XIX teve a obra a circular entre a Grã-Bretanha, os Estados Unidos e a Austrália, a ser vista por milhões, e na viragem do século conheceu uma colagem ao rótulo do “mau gosto” vitoriano.
O recentemente restaurado “The Destruction Of Pompeii and Herculaneum”, pintado em 1821, ficou submerso quando o rio Tamisa transbordou em 1928 e chegou à galeria londrina. Além de encardido, o quadro dividiu-se em duas partes, com uma grande secção – que mostrava um vulcão - a faltar. Mas Patricia Smithen, responsável pela conservação da galeria, olhou para o potencial do quadro e decidiu discutir a possibilidade de restauro. “Surpreendentemente a superfície estava completamente intacta e as figuras em primeiro plano estavam particularmente em excelentes condições”, recorda Smithen.
Restaurado por Sarah Maisey, o quadro pode agora ser visto como “uma peça realmente central na produção de Martin e uma obra extraordinariamente vívida e estimulante”, afirma o curador da exposição. Ao jornal The Guardian, Maisey contou pormenores do restauro e reconstrução do quadro, que implicou a pintura da secção da obra em falta: “Quis que o impacto completo do trabalho de Martin fosse preservado, mas no final queria que as pessoas estivessem aptas a apreciar o que foi deixado do trabalho de John Martin”.
John Martin - nascido no condado de Northumberland em 1789 e falecido em 1854 - ficou conhecido por pintar quadros de grandes dimensões em que retratava cenas da Bíblia e por construir imagens a partir de lendas. Um ano antes de morrer, pintou o tríptico “The Last Judgement” – evento central do Livro do Apocalipse, evocado por pintores de várias épocas. No início da carreira foi autor de “Sadak in Search of the Waters of Oblivion” (1812), uma obra baseada na fantasia oriental e que vai estar presente na mostra da Tate Britain, e de “The Fall Of Babylon” (1819), obra inspirada no Antigo Testamento.
Segundo Myrone, a exposição tem como objectivo “mostrá-lo [Martin] como uma figura fascinante e complexa que produziu algumas das mais espectaculares imagens na História da Arte”. O título da exposição diz respeito ao facto da mão e o cérebro de Martin resvalarem para imagens apocalípticas, de destruição e caos.