A Casa de José Saramago foi inaugurada em Lanzarote num "dia especial"

Foto
António Costa e Pilar del Río Manuel Roberto

"Por muitos nove meses que passem, não o vamos esquecer nunca", disse Pilar del Río na cerimónia onde participou António Costa.

A escolha desta data, 18 de Março, para a abertura oficial de A Casa e Biblioteca de José Saramago obedeceu a uma lógica poética, explicou Pilar del Río, perante "os amigos" que encheram a biblioteca onde Saramago escrevia todas as manhãs.

Aqueles que leram o romance "O Ano da Morte de Ricardo Reis" sabem que nove meses é o tempo que se leva a morrer. Por isso coube à escritora Inês Pedrosa, como directora da Casa Fernando Pessoa, ler em português passagens do romance de Saramago onde a personagem Ricardo Reis tem uma conversa com Fernando Pessoa, que está morto, e lhe explica que são precisos nove meses, "tantos quantos os que andámos na barriga das nossas mães", para que os vivos se esqueçam dos mortos: "(...) antes de nascermos ainda não nos podem ver mas todos os dias pensam em nós, depois de morrermos deixam de poder ver-nos e todos os dias nos vão esquecendo um pouco, salvo casos excepcionais nove meses é quanto basta para o total olvido".

A leitura de Inês Pedrosa terminou com a última frase do livro "Aqui, onde o mar se acabou e a terra espera". Alternadamente as passagens também foram lidas em castelhano pela artista Lourdes Guerra, que participou no disco em que Luis Pastor musicou poemas de Saramago. O músico espanhol, também esteve presente, e cantou uma canção inédita com os versos: "Na Jangada de Pedra navega a tua alma. José Saramago: Portugal e Espanha".

A viúva do escritor, Pilar del Río, emocionada no dia em que abre A Casa que "enriquecerá Lanzarote", antes de pegar num copo de vinho para brindar por Saramago e pela vida disse que José afinal se enganou no que engendrou no seu romance: "Esqueceu-se que por mais nove meses que passem, não o vamos 'olvidar' nunca".
Na cerimónia participou ainda a família mais próxima de Saramago (a sua filha Violante e os netos, Ana e Tiago), o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa e a vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto, que anunciaram numa conferência de imprensa que se realizou pouco antes da cerimónia que a Casa dos Bicos termina as obras em Agosto, altura em que será entregue pela Câmara Municipal de Lisboa à Fundação Saramago, que depois a abrirá a partir do Outono (ainda sem data definida).

O editor português de Saramago, Zeferino Coelho, e os editores de Itália e de Espanha, a agente literária da Alemanha e o biógrafo Fernando Gómez Aguilera, que fez a exposição "A Consistência dos Sonhos", estavam na sala.

Vieram também outros amigos, "pessoas anónimas que todos os dias 18 de cada mês se reúnem para ler José Saramago à porta da Casa dos Bicos, porque não encontraram um lugar que tivesse mais significado", explicou Pilar del Río. "Parece-me uma coisa absolutamente emocionante que 25 pessoas, anónimas, tenham pago uma fortuna para estarem neste dia em Lanzarote."

A Casa vai estar aberta ao público de segunda a sábado e a entrada custará dois euros para os habitantes de Lanzarote, oito euros para os visitantes de fora.

Uma hora antes da cerimónia Pilar del Río fez uma visita guiada para os jornalistas portugueses e espanhóis que estão em Lanzarote. Disse que a Ministra da Cultura de Portugal enviou uma mensagem apesar de não estar presente e que sua homóloga espanhola prometeu vir fazer uma visita daqui a um mês.

"Fundações culturais em várias partes do mundo estão a neste momento a ler Saramago e muitos escritores têm enviado mensagens. Carlos do Carmo também enviou".

No final todos bateram palmas pedindo longa vida para Saramago.

Sugerir correcção
Comentar