Oposição argelina promete manifestar-se todos os sábados
Centenas de pessoas, entoando cânticos similares aos das revoltas populares na Tunísia e Egipto, desafiaram ontem a proibição de se manifestarem em Argel. O protesto acabou por ser prontamente contido por milhares de agentes da polícia anti motim, que impediu os manifestantes de marcharem pela capital como tinha sido planeado.
A coligação de grupos civis e sindicatos e um dos partidos da oposição que organizou este protesto decidiu repeti-lo a cada fim-de-semana, apelando a uma maior adesão dos argelinos. “Vamos continuar a manifestar-nos até que o regime caia. Vamos manter a pressão a todo e cada sábado”, asseverou o porta-voz do RCD (partido da oposição), Mohsen Belabes.
As deposições do Presidente egípcio Hosni Mubarak, na sexta-feira, e antes, no mês passado, do chefe de Estado tunisino, estão a inspirar um movimento de revolta em outros países do mundo árabe, dada a inflamabilidade que resulta da mistura dos seus regimes autoritários e crescente insatisfação popular.
A tensão na Argélia sugere um mesmo caminho – com graves implicações para a economia mundial tratando-se de um importante exportador de petróleo e gás natural – mas muitos analistas avaliam que uma revolta similar às egípcia e tunisina é improvável neste país, uma vez que o Governo pode usar a sua riqueza para aplacar a maior parte das reivindicações dos manifestantes.
Aliás, o protesto de ontem – mesmo se numeroso na Argélia – não parece ter motivado significativa adesão, mesmo depois dos motins generalizados a que o país assistiu em Janeiro causados pelo generalizado descontentamento da população com o desemprego, as precárias condições de habitação e os preços dos alimentos.
Até agora, dizem os observadores, essa insatisfação ainda não gerou um movimento político. E os media argelinos têm noticiado recentemente, de resto, que Bouteflika está a preparar uma remodelação de fundo do seu governo, medida que poderá aliviar alguma da pressão.