Municípios das ilhas ameaçam processar Teixeira dos Santos por abuso de poder

Foto
Segundo estimativas de Fernando Ruas, os cortes representam já cerca de 15 milhões de euros Miguel Madeira

Num conflito que se arrasta nos tribunais, a transferência para os municípios insulares de cinco por cento do Imposto sobre Rendimentos Singulares (IRS) gerado nos respectivos concelhos significaria, na perspectiva do Ministério das Finanças, afectar a cada região autónoma mais receita do que a efectivamente cobrada. O Governo da República "está a cumprir as leis de finanças locais e regionais, sendo todo o IRS cobrado nas regiões entregue às regiões", garante o gabinete de Teixeira dos Santos, sublinhando competir "às assembleias regionais determinar se cinco por cento desse IRS é ou não entregue às autarquias".

Na Madeira, a respectiva Associação de Municípios (AMRAM) denunciou a intenção de proceder judicialmente contra o Governo da República se este não concretizar as transferências para as 11 câmaras do arquipélago relativas à participação do IRS, no montante de oito milhões de euros. Nos Açores, onde o PSD acusou ontem o Governo da República de suspender a transferência em "retaliação" pela decisão do executivo açoriano de compensar os funcionários públicos regionais pelos cortes nos seus vencimentos, a Associação de Municípios (AMRAA) confirmou que as autarquias açorianas ainda não receberam as verbas de IRS previstas para Dezembro, nem as dos meses de Março a Dezembro de 2009. Segundo João Ponte, autarca socialista que preside à associação, está em causa um "questão de justiça" e "não seria bom para Portugal que o Governo não desse o exemplo, entrando em incumprimento do que havia sido deliberado pelo Parlamento".

"Às vezes, intentar uma acção judicial por abuso de poder pode ser mesmo a única solução". É desta forma que Fernando Ruas, o social-democrata que preside à ANMP (Associação Nacional dos Municípios Portugueses) justifica a recomendação que a associação fez. As transferências em falta do IRS para os 30 municípios das regiões autónomas representam um montante que ascende já, segundo as estimativas do presidente da ANMP, a 15,2 milhões de euros, em "flagrante e grosseiro incumprimento da Lei de Finanças Locais e da própria Lei do Orçamento do Estado".

É, de resto, com base nessa "ilegalidade" que Ruas decidiu também escrever ao primeiro-ministro e ao presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, pedindo intervenção urgente para pôr cobro a uma situação que, além de configurar um tratamento desigual entre os municípios do continente e os das regiões autónomas, pode mesmo "pôr em causa pagamentos essenciais previstos para este mês de Dezembro".

Repudiando a decisão do ministro das Finanças de cortar o duodécimo relativo a Dezembro, "depois de ter transferido as verbas correspondentes aos 11 duodécimos anteriores", Ruas adverte para as consequências que tais cortes representarão nas receitas de alguns municípios. "Para o Funchal, trata-se de uma quebra de 33 por cento do conjunto das receitas transferidas do OE; para Santa Cruz, são 18 por cento; para Ponta Delgada, são 17 por cento; para Porto Santo, são 15 por cento, e aí por diante", exemplifica. Tudo isto, refere ainda Fernando Ruas, a somar "à falta de cumprimento do OE para 2010" por parte do ministro das Finanças, que se recusa "a transferir as verbas correspondentes aos duodécimos de Março a Dezembro de 2009, no valor de cerca 14 milhões de euros", apesar de tal ter sido aprovado pelo Parlamento. "É a descredibilização dos órgãos. Não é possível a Assembleia da República tomar a decisão e, depois, o Governo não a respeitar", insurge-se o presidente da ANMP, que pede a José Sócrates que seja "reposta a legalidade". E apela a Jaime Gama que "intervenha, com carácter de urgência, no âmbito das competências da Assembleia da República".

Sugerir correcção
Comentar