Partidários do Presidente eleito da Costa do Marfim estão a ser raptados durante a noite

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Laurent Gbagbo quer que as tropas da ONU e França abandonem a Costa do Marfim Luc Gnago/Reuters

Depois dos violentos acontecimentos de quinta-feira, que causaram dezenas de mortos, centenas de partidários do Presidente eleito Alassane Ouattara e parentes dos mesmos foram raptados, particularmente durante a noite, disse a alta comissária Navi Pillay.

Os indivíduos armados, não identificados, em trajo militar, que cometeram esses desacatos eram acompanhados por elementos das Forças de Defesa e Segurança (FDS) ou por milícias, declarou ontem à noite Pillay, segundo a qual isto aconteceu nomeadamente na localidade de Bassam, a leste de Abidjan.

As FDS, comandadas pelo general Philippe Mangou, são um pilar do regime mantido há 10 anos por Gbagbo, que não aceita ter sido derrotado nas presidenciais que tiveram a sua segunda volta no dia 28 de Novembro.

Horas antes desta tomada de posição por parte da ONU, o primeiro-ministro designado por Ouattara, Guillaume Soro, antigo líder da guerrilha vulgarmente conhecida por Forças Novas (FN), dissera ser preciso que a comunidade internacional se consciencialize de que está perante “uma verdadeira loucura assassina”.

Soro acusou o regime de Gbagbo de estar a criar na Costa do Marfim “outro Ruanda”, numa referência ao genocídio que em 1994 se verificou na região dos Grandes Lagos, com cerca de 800.000 mortos.

A porta-voz das FN, Affousy Bamba, que é advogada, acusou entretanto os partidários do Presidente cessante de estarem a preparar uma chacina com o apoio de milicianos ou de mercenários naturais de Angola e da Libéria.

Convidado pela comunidade internacional a passar o poder a Ouattara e a partir para o exílio, Gbagbo ordenou às tropas das Nações Unidas e da França estacionadas na Costa do Marfim que deixem o país, o que foi rejeitado tanto pelo secretário-geral Ban Ki-moon como pela ministra francesa da Defesa, Michèle Alliot-Marie.

“Ambas as partes estão a preparar-se claramente para o conflito e Gbagbo, encurralado, demonstra pouco senso”, comentou Alex Vines, director do programa África do centro de investigação Chatham House, citado pela Associated Press.

Há quatro dias que se teme o pior, tendo o jornal francês “Le Monde” escrito em editorial que a Costa do Marfim já está a pagar bastante caro desde há oito anos o facto de ter ficado quase cortada em duas depois da revolta de 2002, com rivalidades étnicas, diminuição do nível de vida, infraestruturas abandonadas e “criminalização do poder central”.

Tal como o Presidente Nicolas Sarkozy, a ONU, a União Africana e a União Europeia, também o editorialista do “Le Monde” afirmou, logo em título, que “Gbagbo deve deixar o poder”.

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