Há uma fronteira entre o amadorismo e a indigência. "Contraluz" parte de um projecto (meio perverso, meio ingénuo) de relação com o público português. Visto que este público não se identifica com o que normalmente lhe mostram os filmes portugueses, pretende dar-lhe aquilo que ele realmente reconhece: a paisagem americana e a língua inglesa com pronúncia americana.
Dá-lhe isso, de facto, mas depois não tem meios nem estaleca para o passo seguinte: emular os códigos do filme médio americano de factura industrial, nem os narrativos, nem as suas convenções de realismo, nem coisa nenhuma. Mas justificar a pobreza de "Contraluz" com um voluntarismo a que faltam apenas os meios é ignorar o fundo da questão: sim, com mais dinheiro Fragata teria actores melhores, se calhar um argumento decente, um envolvimento técnico (do som à montagem) mais convincente. Mudaria isso o essencial do que aqui se propõe como "mundo" e como "cinema"?