Na China, a pesquisa online ainda não é um negócio do outro mundo para a Google

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Google ainda não sabe se continuará a operar na China Reuters

"O Governo chinês tem capacidade para desligar arbitrariamente o Google na China continental, se o quiser fazer", notou o presidente da Google, Eric Schmidt, numa conferência em Londres. "Ainda não o fizeram e esperamos que não o façam".

A Google já deu esta semana um passo atrás para tentar agradar às autoridades chinesas. Depois de ter passado a redireccionar automaticamente os cibernautas da China continental para o motor de busca de Hong Kong (onde a informação não é censurada), a empresa decidiu regressar à versão chinesa do motor de busca, acrescentando-lhe apenas um link para a versão de Hong Kong. A China não disse se o recuo seria suficiente para a revalidação da licença - mas já várias vezes este ano deu mostras de não estar disposta a recuar nas regras de controlo de informação.

Política e informação

O caso começou em Janeiro, quando a Google disse que deixaria de auto-censurar os resultados das pesquisas no motor de busca. A decisão foi a resposta a um ataque feito a contas de e-mail de activistas dos direitos humanos na China que, segundo a multinacional, teve origem em Pequim. O incidente ganhou contornos políticos, com o Presidente Obama e a secretária de Estado Hillary Clinton a sublinharem a importância da liberdade de informação.

Por seu lado, responsáveis do Governo chinês vinham a público dizer e repetir que não abdicariam do cumprimento das leis nacionais.

A Google tem sido, entretanto, elogiada pela tomada de posição. Em 2005, quando anunciou a entrada no território chinês e pactuou com a censura, foi muito criticada e escudou-se no argumento de que alguma informação era melhor do que informação nenhuma.

A China é - segundo dados do próprio Governo - o país do mundo com maior número de utilizadores de Internet: 384 milhões de cibernautas, um valor que é superior ao de toda a população dos EUA, o segundo país mais ligado à Internet. Segundo algumas estimativas, o número de utilizadores no país (cuja população ultrapassa os 1300 milhões de habitantes) poderá facilmente duplicar nos próximos anos. Os números, associados a uma economia em crescendo, fazem com que este seja um mercado inevitavelmente cobiçado por qualquer empresa da Internet.

Mas, apesar da dimensão, os chineses não são os que mais gastam on-line e a Google tinha receitas apenas marginais neste país. A multinacional americana não revela dados específicos para cada território. Contudo, em Janeiro, o responsável legal da Google, David Drummond, classificou os ganhos naquele país como "verdadeiramente irrelevantes".

Mercado atípico

A JP Morgan estimou naquela altura que, se a empresa tivesse continuado a funcionar normalmente, conseguiria 480 milhões de euros de receitas na China ao longo de 2010. É uma pequena gota no total de facturação da empresa - em 2009, a Google totalizou 21.200 milhões de euros em receitas.

A China é, no que aos motores de pesquisa diz respeito, um mercado atípico. A Google, habituada a liderar o sector em boa parte do mundo, está aqui num afastado segundo lugar.

No início do ano, tinha uma fatia de mercado a rondar os 35 por cento. Agora, caiu para perto dos 30 por cento. Quase todo o resto do bolo é do Baidu, um motor de busca chinês, cumpridor da legislação local e que é praticamente desconhecido fora da China (e mesmo o Baidu não deverá em 2010 ir além dos 700 milhões em receitas).

Para já, os números são relativamente baixos, mas todos esperam que o investimento on-line cresça significativamente nos próximos anos.

Uma saída da Google provavelmente deitará a perder muitos ganhos futuros. E o atrito com o Governo chinês já começa a ter impacto. O Baidu, que disse ter notado apenas pequenos ganhos de facturação, viu a sua já grande quota de mercado aumentar - e as acções da empresa dispararam 66 por cento ao longo de 2010. As da Google caíram 28 por cento.

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