Fariñas quer reatar greve da fome quando tiver alta do hospital

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Fariñas está nos cuidados intensivos do hospital Arnaldo Millán Castro Desmond Boylan/Reuters

"Em geral estou com muita sonolência, decaído", disse à agência espanhola EFE aquele dissidente de 48 anos, que há 19 dias iniciou uma greve de fome contra a morte, pelo mesmo motivo, de Orlando Zapata Tamayo.

Ao telefone, a partir da sala de cuidados intensivos do hospital Arnaldo Millán Castro, Fariñas, que além de doutorado em Psicologia é um jornalista independente, informou que em breve lhe darão alimentos por via intravenosa, para além do soro com glicose que está a receber desde quinta-feira, dia em que desmaiou pela segunda vez.

O dissidente explicou ter sofrido um "colapso venoso" devido a mais de duas semanas sem comer nem beber, o que tornou difícil colocarem-lhe um catéter, quando o médico assistente o levou para o hospital.

Guillermo Fariñas, antigo militar que combateu e foi ferido em Angola, quando tinha 20 anos e estava a ajudar o MPLA a combater a UNITA, em 1981, já esteve mais de onze anos preso, desde que começou a discordar do regime que servira e que inclusive lhe deu uma medalha, por ter cumprido o seu "dever internacionalista".

Esta sua última greve, depois de 22 anteriores, está a ser aproveitada para pedir ao Presidente Raúl Castro que, "num gesto humanitário", mande libertar os 26 presos políticos que se encontram com a saúde mais debilitada. Ao todo, haverá em Cuba mais de 200 presos políticos.

Fariñas está a ser acompanhado 24 horas por dia, no hospital, por um dos elementos da família e pode ter visitas às terças, quintas, sábados e domingos, com um vidro pelo meio.

Enquanto isto, o compositor e intérprete cubano Pablo Milanés declarou ao jornal espanhol "El Mundo" que "há que condenar" o regime de Havana, do ponto de vista humano, se acaso Fariñas acabar por morrer, pois "as ideias discutem-se e combatem-se, não se aprisionam".

Segundo Milanés, os dirigentes da Revolução Cubana ficaram parados no tempo: "a História deve avançar com ideias e homens novos". Por isso, disse que está a fazer falta outra revolução: "O sol enorme que nasceu em 1959 está a encher-se de manchas, à medida que vai envelhecendo".

Outro artista cubano, o actor de cinema Andy Garcia, radicado nos Estados Unidos, disse ao mesmo jornal de Madrid "rezar para que a situação de Fariñas não chegue à morte". E que "as pessoas já não podem mais; estão a dar a vida para que alguém no mundo preste atenção ao que está a acontecer".

Enquanto isto, na cidade polaca de Gdansk, berço do movimento sindical Solidariedade, o antigo Presidente Lech Walesa contou ter recebido quinta-feira um telefonema de Guillermo Fariñas, horas antes de ele ter perdido os sentidos e sido levado para o hospital.

"Se eu morrer, peço-te que coloques uma coroa no meu túmulo, quando Cuba for livre", disse o dissidente a Walesa, quando este o tentou em vão dissuadir de continuar com a greve da fome.

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