Quem esperar do filme de Anne Fontaine ("Nathalie") uma convencional biografia da estilista francesa Coco Chanel - ou seja, uma espécie de "La Vie en Rose" em versão alta-costura - pode desde já tirar o cavalinho da chuva. "Coco Avant Chanel", como o seu título (misteriosamente não traduzido para português...) explica, concentra-se nos anos "antes" do seu apelido se ter tornado no sinónimo da moda chique parisiense, em que a então ainda Gabrielle era costureira de província com aspirações a vedeta da canção.
O que se desenha, então, é muito mais um retrato de mulher disposta a tomar o seu destino nas mãos, procurando fugir à rota que lhe fora traçada à nascença por uma sociedade francesa ainda muito arreigada às convenções sociais que ditavam o papel da mulher como mero elemento decorativo.
Esta Coco Chanel, habitada persuasivamente por Audrey Tautou (como "Amélie" vai longe!), está longe de ser uma mulher simpática ou idónea, mas é, felizmente, um ser humano - e o mérito maior do filme de Anne Fontaine, misto de "biopic" de câmara e triângulo romântico entre Gabrielle e os seus protectores, o cavaleiro aristocrata Etienne Balsan (um assombroso Benoît Poelvoorde) e o negociante inglês Arthur Capel, é o de estar muito mais interessada em pessoas do que em estereótipos, escapando com uma elegância quase ofensiva às armadilhas do "biopic" (mesmo que lhes dê no final uma cedência de última hora que retira algum lustro ao projecto) e evitando com enorme "souplesse" as tendências de "audiovisual" de luxo.
"Coco Avant Chanel" é um filme (que alívio!) e, sobretudo, um filme inteligente (que maravilha!). Uma surpresa.
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