Elementos de claque do Benfica acusados de associação criminosa e tráfico de droga
O mais conhecido grupo de apoiantes do Benfica foi alvo de uma aparatosa acção policial há cerca de meio ano, através da operação Fair Play, desencadeada pela Unidade Especial de Combate ao Crime Especialmente Violento (UECCEV) do DIAP de Lisboa com a colaboração da Polícia de Segurança Pública. Das mais de três dezenas de detidos, três ficaram presos preventivamente, quatro em prisão domiciliária e pelo menos dois proibidos de frequentar recintos desportivos.
A acção policial saldou-se ainda na apreensão de armas proibidas, material pirotécnico e mais de dez quilos de haxixe e 115 gramas de cocaína. O libelo sustenta que a claque era financiada através da venda de ingressos para os desafios e de substâncias estupefacientes, nomeadamente haxixe e cocaína. Foram ainda recolhidos indícios da venda e revenda de armas de fogo, nomeadamente de TASER (armas que atingem as vítimas com choques eléctricos), que teriam uma potência superior às usadas pelas forças de segurança.
A investigação abrangeu várias situações relacionadas com actos de violência de que foram vítimas adeptos do FC Porto e do Sporting. E ainda confrontos com forças de segurança e apreensões de droga. O inquérito acabou por agrupar factos ilícitos que estavam dispersos por outros processos. Nos casos da suspeita de tráfico de droga e de armas, as autoridades realizaram escutas telefónicas.
Através das escutas, recorde-se, a PSP pôde reunir elementos que a ajudaram a identificar a autoria moral e material do incêndio ateado ao autocarro que transportou a claque dos Superdragões, que se deslocou a Lisboa, em 21 de Julho de 2008, para apoiar a equipa de hóquei em patins do FC Porto que jogava contra o Benfica. Na origem deste acto esteve, segundo a acusação, o ódio contra o FC Porto, realçando a premeditação do acto, uma vez que o autocarro tinha sido antes seguido por uma viatura ligada aos No Name Boys.
Cerca de cinco meses antes, elementos daquela claque benfiquista terão provocado danos no complexo desportivo do Sporting, Alvaláxia XXI. Destruíram cancelas, derrubaram um sinal de trânsito e pintaram as paredes da sede da Juve Leo com os seus símbolos. A acusação relata também a agressão de que foi alvo um jornalista de um diário desportivo, quando se encontrava em serviço junto ao complexo desportivo do Benfica, no Seixal. Depois de apedrejarem a viatura do jornalista, os elementos da No Name Boys retiraram do seu interior um taco de bilhar com o qual destruíram o vidros e provocaram diversas amolgadelas, lançando depois uma tocha incendiária que, frisa a acusação, só não consumiu a viatura porque caiu fora. Além dos danos materiais, o jornalista acabou por ficar ferido na sequência do incidente.
O facto de agirem sempre em superioridade numérica, munidos de tacos, facas e outros utensílios, é também assinalado noutras situações. Numa delas, a vítima foi um elemento da claque Juve Leo, do qual conheciam a sua morada, ligações familiares e outros elementos da sua vida pessoal, a partir de um ficheiro criado no seio da claque.
Uma das situações relatadas ocorreu na madrugada de 25 de Fevereiro do ano passado, na Amadora, onde esperaram um jovem junto à sua residência. Este, apercebendo-se da cilada, tentou fugir em direcção à esquadra da PSP, mas não o conseguiu. Acabou por ser alvo de várias agressões, que culminaram com diversas queimaduras no corpo provocadas pela utilização de tochas incendiárias. A vítima teve que ficar cerca de um mês em recuperação. Apesar de as agressões serem imputadas a um grupo numeroso, apenas três dos seu elementos acabaram por ser identificados pelas autoridades.