Moscovo pede à NATO que cancele exercícios militares na Geórgia

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A ministra dos Negócios Estrangeiros da Geórgia com o secretário-geral da NATO, num encontro em Dezembro de 2008 YVES HERMAN/Reuters

O enviado de Moscovo junto da NATO, Dmitri Rogozin disse esta manhã à Reuters ter pedido ao secretário-geral da Aliança, Jaap de Hoop Scheffer, que “cancele ou adie” os exercícios militares que deverão começar a 6 de Maio e que deverão reunir 1300 homens de 19 países.

“Isto é um absurdo e uma provocação”, acrescentou Rogozin.

A Rússia diz que vai enviar uma carta à NATO pedindo que “o exercício não tenha lugar por agora”, cita a agência AFP, mas um porta-voz da Aliança, Robert Pszcel, disse que o secretário-geral da organização ainda não tinha recebido qualquer pedido de adiamento.

Psczel acrescentou que “não há qualquer surpresa na realização destes exercícios”, que foram agendados há um ano no quadro de uma parceria entre a NATO e Tbilissi. O porta-voz acrescentou que os exercícios, que terão lugar num campo de treinos situado 20 quilómetros a leste de Tbilissi, “não envolvem equipamento militar pesado”.

“Não existe qualquer controvérsia, qualquer surpresa e nenhuma ligação à situação na Geórgia ou na região”, sublinhou Pszcel.

Mas a Rússia não pensa assim. Para Moscovo, estes exercícios “só podem complicar uma situação que não é simples”, disse o porta-voz Dmitri Rogozin, citando as tensões nas províncias separatistas da Abkházia e da Ossétia do Sul e as manifestações da oposição contra o Presidente georgiano, Mikhail Saakachvili, que se têm sucedido nos últimos seis dias na capital georgiana, Tbilissi.

Este será o primeiro exercício militar na Geórgia em que a NATO participa desde a guerra de Agosto de 2008 entre russos e georgianos, que culminou na declaração unilateral de independência das províncias separatistas da Abkházia e da Ossétia do Sul, apoiadas por Moscovo. A Reuters sublinha que o exercício enfatizará a solidariedade entre a NATO e a Geórgia, país ao qual foi prometido que no futuro integrará a Aliança.

A possibilidade de Tbilissi vir a ser membro da NATO não é aceite por Moscovo, que considera a antiga república soviética parte da sua esfera de influência.

“O cenário [do exercício] será o de uma resposta a uma crise liderada pela NATO, numa operação fictícia mandatada pelas Nações Unidas”, disse uma fonte da NATO à Reuters. A Rússia considera a sua intervenção no conflito do ano passado como uma missão de manutenção de paz.

A contestação de rua dos últimos dias introduziu um novo factor de tensão nesta crise. Tbilissi acusou Moscovo de estar a intensificar a sua presença militar na fronteira entre a Geórgia e a Ossétia do Sul, o que é desmentido pelos russos.

O correspondente do Christian Science Monitor na Geórgia recolheu no terreno testemunhos que apontam para uma maior concentração de forças russas, a menos de 50 quilómetros de Tbilissi, que estará a alimentar rumores de que a Rússia voltará a intervir, se Saakachvili não deixar o poder. Mas um observador europeu da missão de monitorização da União Europeia, que não tem acesso a território da Ossétia, disse não ter notado nada de alarmante.

“Os russos disseram-nos hoje que estão a fazer uma rotação de rotina e que estão preocupados com a situação em Tbilissi. Não notamos nada de alarmante”, disse Pamela Preusche, porta-voz da Missão de Monitorização da União Europeia (EUMM, na sigla em inglês).

Sinais de desanuviamento

O conflito militar de Agosto do ano passado congelou as relações entre a Rússia e a Aliança sua adversária nos anos da Guerra Fria. Só após a eleição de Barack Obama para a Casa Branca começaram a surgir sinais de desanuviamento entre Moscovo e o Ocidente. Washington fez uma proposta de desarmamento nuclear que Moscovo acolheu favoravelmente, mas a instalação de um escudo antimíssil na Polónia e na República Checa continua a dividir as duas capitais.

Ontem, um porta-voz da missão russa junto da NATO confirmou que o painel conjunto da Rússia e da Aliança voltará a reunir-se a 29 de Abril, no que é visto como um sinal de normalização das relações entre os dois lados.

Moscovo também disse ontem que ainda não entregou mísseis terra-ar S-300 ao Irão, que os poderá usar na defesa das suas instalações nucleares, protegendo-as de um eventual ataque aéreo israelita. A decisão russa de entregar estes mísseis conduziria a um aumento de tensão na região, uma vez que Israel não exclui atacar o Irão. Mas Moscovo tem mantido que a eventual entrega dessas armas depende “da evolução da situação internacional”.

Sinais de desanuviamento

Ontem, um porta-voz da missão russa junto da NATO confirmou que o painel conjunto da Rússia e da Aliança voltará a reunir-se a 29 de Abril, no que é visto como um sinal de normalização das relações entre os dois lados.


Moscovo também disse ontem que ainda não entregou mísseis terra-ar S-300 ao Irão, que os poderá usar na defesa das suas instalações nucleares, protegendo-as de um eventual ataque aéreo israelita. A decisão russa de entregar estes mísseis conduziria a um aumento de tensão na região, uma vez que Israel não exclui atacar o Irão. Mas Moscovo tem mantido que a eventual entrega dessas armas depende “da evolução da situação internacional”.

Os mísseis S-300 são também a parte do jogo negocial da Rússia com os Estados Unidos, cujo ponto-chave é o escudo antimíssil. Moscovo considera-o uma ameaça, enquanto Washington diz que ele se destina a defender a Europa e os EUA de países como o Irão ou a Coreia do Norte.

A Administração Obama considera o escudo negociável (o que não acontecia com a Administração Bush), mas quer em troca um maior envolvimento da Rússia na questão iraniana, enquanto Moscovo não aceita ligar as duas questões.

Notícia actualizada às 11.23
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