Líder khmer vermelho impávido no início do julgamento
Não se esperava ouvir nada da sua parte (nem qualquer testemunha, o que só acontecerá no próximo mês), mas ainda assim, centenas de cambojanos fizeram fila para ocupar a sala do tribunal, que reservou 300 lugares para a população e jornalistas.
“Há 30 anos que esperávamos por este dia, mas não sei se vai acabar com o meu sofrimento”, afirmou aos jornalistas o pintor Vann Nath, que esteve na S-21 e só se salvou – ao contrário de outros 15 mil – porque se descobriu que pintava e foi escolhido para fazer retratos de Pol Pot, o líder do Khmer Vermelho. Hoje, Vann Nath conseguiu ver Duch de perto.
O tribunal, criado pelo Governo do Camboja com a ajuda das Nações Unidas, visa julgar os líderes sobreviventes do regime que entre 1975 e 1979 tentou levar à prática a utopia de uma sociedade onde não havia dinheiro, escolas, ou cidades. Milhares de pessoas foram enviadas para os campos para trabalhar, milhares morreram à fome, por doença ou por serem sumariamente executadas.
Duch foi acusado de crimes de guerra, tortura e homicídio. Os que escapavam ao centro que dirigia eram enviados para os “campos da morte”. Chegou a pedir perdão, através do seu advogado, e a fazer várias confissões a jornalistas. O seu papel será fundamental não só como arguido, mas também como testemunha dos julgamentos dos restantes elementos do Khmer Vermelho nas mãos da justiça: o “irmão número dois” do regime, Nuon Chea, o ex-Presidente Khieu Samphan, e Ieng Sary, então ministro dos Negócios Estrangeiros, e a mulher, Ieng Thirith.