Uma das "duas begums" voltará ao poder com as eleições de hoje no Bangladesh

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Sheikh Hasina é a favorita na corrida eleitoral Andrew Bira/Reuters

Rivalidade talvez seja uma palavra demasiado suave para descrever a oposição entre Sheikh Hasina, da Liga Awami (formação laica, de esquerda), e Khaleda Zia, do Partido Nacionalista do Bangladesh (BNP, de direita), que, entre 1991 e finais de 2006, ocuparam alternadamente o poder.

As duas sexagenárias begums partilham um ódio de estimação, e praticamente não se falam. Ambas são herdeiras de dinastias políticas - Zia é viúva de um primeiro-ministro assassinado por militares, Ziaur Rahman, e Hasina é filha do primeiro Presidente do Bangladesh independente, Sheikh Mujibur Rahman, também morto pelo Exército. As duas estiveram mais de um ano presas, acusadas de corrupção, e saíram em liberdade sob caução para poder concorrer a estas legislativas.

E apesar de os seus programas políticos não apresentarem diferenças consideráveis, o Bangladesh é apontado como um dos países mais politicamente polarizados do mundo.

Outra coisa as une: trocaram acusações sobre tentativas de fraude eleitoral pelo seu rival. A retórica traz consequências, porque permite antever protestos violentos da parte vencida. Há indícios de que o BNP poderá não aceitar os resultados, em caso de derrota, ou a Liga Awami contestá-los se não sair vitoriosa, tal como o previsto. "O sentimento geral dá a Liga Awami como vitoriosa, mas restam ainda muitos indecisos", comentou à AFP Manzoor Hasan, politólogo de Daca, a capital.

Evitar o déjà vu

Este seria um cenário de déjà vu no país, um dos mais pobres do mundo, onde mais de 40 por cento da população vive com menos de um dólar por dia. Foram as acusações de irregularidades eleitorais que levaram o Bangladesh para a crise política, em Outubro de 2006, com manifestações violentas a provocar 35 mortos, e a dar uma desculpa aos militares para voltar a intervir e anular as legislativas que estavam a dez dias de distância. Seguiu-se o estado de emergência, durante o qual foram detidos dissidentes, os media estiveram sob censura e as reuniões políticas foram proibidas, tal como as de dirigentes sindicais.

Mas este executivo será talvez lembrado por uma perseguição à corrupção que teimosamente coloca o Bangladesh nos primeiros lugares da lista de países corruptos da Transparency International. Em menos de dois anos, uma purga levou dez mil pessoas a interrogatório policial, 150 ex-ministros, empresários e altos funcionários foram detidos, refere a AFP. Incluindo as duas candidatas.

Os analistas também referem que o Governo foi eficiente a organizar o escrutínio de hoje, fundamental para a estabilidade do país - uma das medidas fundamentais foi limpar os cadernos eleitorais de milhares de eleitores-fantasma e permitir que os dois principais partidos concorressem.

No entanto, o Governo deixou por cumprir várias reformas que tinha prometido há dois anos, quando assumiu funções, denuncia o International Crisis Group (ICG) num relatório de 11 de Dezembro. Resta agora ao partido vitorioso continuá-las.

Hasina, que se distanciou das políticas socialistas do pai, é vista como relativamente mais capaz de abrir o país ao investimento estrangeiro (a exploração dos recursos naturais, como o gás, necessita de tecnologia internacional, dizem os especialistas). Também parece em melhor posição para lutar contra os grupos extremistas islâmicos, já que a sua rival é apoiada pelo Jamaat-e-Islami, o maior partido muçulmano do país.

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